“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

A Academia Caxambuense de Letras inicia as comemorações de natal neste ano de 2022, com publicações sobre a ceia natalina. Desejamos à todos um Feliz Natal e um ano de paz.

Éramos Alice minha mãe, Celina minha avó, tios, tias, primos, primas e eu.

Todas as celebrações eram na casa de minha avó, a matriarca da família.  Guerreira,  criou cinco filhos sozinha. Lembro-me bem. Nascida no interior de São Paulo, era de uma geração que sabia fazer de tudo em uma casa, além de costurar, produzir crochês lindos, uma habilidade manual realmente impressionante e inesquecível.

Eu, ainda pequena, adorava ajudar a colocar os enfeites na árvore de Natal. Quando percebia algum movimento anunciando a chegada do Natal, já ficava rodeando minha mãe, perguntando “Quando vamos montar a Árvore?

Bolas vermelhas,  douradas, verdes, de todos os tamanhos, fios de algodão, anjinhos, cestinhos, presentinhos e escolher qual enfeite seria a ponta superior, eram uma enorme diversão. Mundo imagético, que podia atravessar um túnel infinito para um universo de surpresas e novas possibilidades! Eu podia ficar horas, dias, rodeando aquela árvore, cenário de todas as minhas expectativas sobre aquela “Festa”.

E quando chegava a véspera, a Ceia de Natal. Mesa grande, todos reunidos. Eram raras as oportunidades de estarmos todos juntos! Era uma alegria. Todos ajudavam. Uma das primas de minha mãe era muito engraçada e ela fazia brincadeiras que divertiam a Celina, sempre séria e concentrada nos afazeres. Era uma mesa farta, mas sem exageros, sem desperdícios! Mesa colorida, assados, arroz, farofas salgada e doce, e o vinho, que não podia faltar!

Antes do jantar, a oração! Minha mãe era a encarregada! Neste momento, trazíamos para nossa casa a lembrança de que estávamos ali para celebrar o nascimento de Jesus de Nazaré! Um momento em que o Sagrado nos visitava, prenunciando para mim a chegada do Papai Noel! Criança! Que tristeza  senti, quando soube que ele não existia! Que decepção!

Lembro-me que em um ano, eu já com meus seis, sete anos, arrumando a Árvore, falei de repente para minha mãe “ Sabe mãe, que ainda teremos Natal com neve aqui no Brasil?” Ela me olhou assustada e claro, disse que eu estava sonhando!

Hoje, com tantas alterações climáticas, e tanta mescla de estações no mesmo dia, frio em novembro?!  começo a pensar que aquela visão,  pode ter sido um prenúncio!

Fato é que a família diminuiu, quase todos que ocupavam aquela mesa já partiram, mas todos os anos, na noite de Natal, celebro, e mesmo no mais simples, nunca faltam a oração de agradecimento e uma saborosa refeição com vinho,  que me remetem às melhores Ceias de Natal com minha família de origem, quando todos ainda se encontravam para festejar o grande Nascimento!

Maria Cristina Mallet Porto, Acadêmica da Academia Caxambuense de Letras