“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

O INÍCIO DO TEATRO QUADRO VIVO EM BAEPENDI – 1961!
Princípios de 1961…  Nossa tradicional Baependi, a cada ano, sempre festejou a Semana Santa após o Carnaval, como de costume: celebrações e comemorações extraordinárias, em que o espírito da Fé Católica se fazia e se faz sentir, a comover a tantos quantos dela participavam e participam.
E foi após os eventos todos de procissões, sermões, missas e bênçãos, que Frei Paschoal, Diretor do Ginásio “Nossa Senhora de Montserrat” chegou ao educandário, agitado, inspirado e “dando tratos à bola”. Pensou em um teatro com cenas bíblicas, envolvendo desde a Santa Ceia, até a culminância com a Morte de Jesus Crucificado. Não deve ter dormido bem aquela noite, porque na manhã seguinte trazia em mãos folhas com rabiscos, esboços, desenhos, palavras soltas e anotações riscadas e ininteligíveis. E assim, antes do início das atividades daquele dia, ele já agitara toda o antigo Ginásio, chamara alunos e Professores aos quais tentava explicar com seu carregado sotaque holandês, seu “portulandês”, todo o seu projeto de um Teatro que teria Quadros Vivos, contando com a participação de alunos do “Montserrat” e também do povo da cidade! Envolveria tantos quantos cidadãos se apresentassem, se habilitassem com boa vontade e aceitação de suas ideias extraordinárias para a época.
O Colégio Montserrat se agitou, porque a agitação de Frei Paschoal era contagiosa e, na mente do bom Frei, cenas tomavam forma e, desde então, tudo se tornou uma festa! E, assim, aquele ano foi de dedicação sistemática e doentia às ideias dele.  Portanto, o Teatro Quadro Vivo chegou-nos pela inteligência brilhante de um estrangeiro, bem especificamente de um holandês, que dedicou-se à educação sistematizada da juventude, com oferta do Curso Ginasial, do Colegial (ou Científico), Ensino Médio, com o apoio e a dedicação de sua Congregação Franciscana por décadas em nossa terra.
Baependi agitou-se: seria preciso pedir ajuda não somente à população, mas também aos cofres públicos. E assim se fez! E eis que tudo para o teatro foi sendo adquirido. E foi necessário pensar nos “artistas” para o teatro: alunos do Ginásio e gente da população. Não foi nada fácil criar os diálogos dos personagens para um desempenho à altura. Mas houve tanta boa vontade que tudo culminou num sucesso admirável!!!
E temos até hoje o Quadro-Vivo, Teatro Popular do qual tanto nos orgulhamos!!!!!!!!!!!
O 1º CRISTO DO 1º QUADRO-VIVO BAEPENDIANO DA PAIXÃO E MORTE DE CRISTO
QUEM FOI?
A preocupação com quem seria o 1º Cristo do Teatro Baependiano que encenaria o 1º Quadro-Vivo Baependiano ocupou sobremaneira a cabeça de Frei Paschoal.
E assim, após pensar muito e perder horas de sono durantes algumas noites, escolheu, dentre os alunos do Colegial do Ginásio “N.S. de Montserrat”, para ser o 1º Cristo do 1º Quadro-Vivo, um aluno ex-seminarista, muito cheio de Fé e de Deus, “um bom moço”, admirado e a quem todos, quase em sua maioria, conheciam: Ildefonso Mendes de Siqueira, chamado por todos de “Defonso”.
           Era aluno do Ginásio e, depois tornou-se Aluno-Mestre de Ciências e Química, na mesma escola. Trabalhou durante a maior parte de sua vida como Professor Efetivo do Estado de Minas Gerais, na Escola Nossa Senhora de Montserrat e durante vários anos também no Colégio Franciscano “Santo Inácio” de Baependi. OBS: Com certeza, jamais lhe passou pela mente tornar-se Artista de um Teatro Popular “Quadro -Vivo da Paixão e Morte de Cristo”, em Baependi, sua terra.
A grande preocupação de Frei Paschoal foram os ensaios todos para o sucesso do Quadro-Vivo idealizado por ele. E assim, não poupou os figurantes em suas atuações. Era necessário que tudo, ou quase, fosse perfeito…
Ensaios exaustivos aconteceram nos locais por onde passariam os atores: na Capelinha de Nossa Senhora de Fátima, nas trilhas pelo mato, nas ruas de paralelepípedos, no alto do morro da Capelinha, etc. OBS: Tudo ensaiado nas caladas das madrugadas: e, no mato, em terreno acidentado e sob luz de lanternas muito antigas e ruinzinhas.
ENFIM, NA NOITE DA CENA MÁXIMA, NO MORRO NA CAPELINHA
A caminhada até o Gólgota (morro da Capelinha) foi árdua.  Os carrascos flageladores de Jesus recebiam ordens dos soldados romanos, montados a cavalo. E o caminho percorrido por Jesus (Defonso) era péssimo: solo cheio de terrões duros e de espinheiras do mato que fora capinado, mas no qual deixaram os doloridos e pontiagudos espinhos.
E Cristo (Defonso) foi ferido pra caramba nos pés descalços, quando tropeçava e caía de verdade… Os carrascos capricharam-lhe nas costas seus chicotes de madeira, nos quais foram amarradas tirinhas de couro bem fininhas para não machucarem a pele do Cristo. Só que, debaixo das ordens dos soldados, os carrascos  bateram com força e lanharam a pele muito branca de Defonso, deixando ali risquinhos de sangue só vistos no dia seguinte!…Sim!… Ele passou por uma torturazinha danada de ruim!!!
NO CALVÁRIO…
Assim que lá chegaram, a Cruz do Cristo foi fincada, foi “plantada” bem em cima e dentro de um formigueiro ativo!!!
Então, para surpresa e pânico do Cristo (Defonso), este começou a sentir que as formigas lhe subiam pelas pernas! E não apenas subiam como picavam, e isso fez com que a sangue afluísse para os locais das mordeduras delas, fazendo as canelas e as coxas ferverem e doerem ao mesmo tempo!!!! Só que o pior ainda estava por vir: quando as formigas chegaram às virilhas, o Cristo ali teve ânsia e desejo de gritar mooooiiiiitooooo!!!!!!!!!!!!
Entrou num desespero tal que, ao sentir as piores picadas da vida, mais acima, teve ímpetos de gritar: “- Pai, por que me abandonastes?????!!!!”
E pediu perdão a Deus Pai, pelo pensamento profano copiado da fala do Cristo!!!!
Cravou os dentes no lábio inferior que lhe abriu um feio corte, sobre o qual preferiu não dar explicação alguma aos curiosos no dia seguinte !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
(Por Iná Brasílio)