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Brasileiros trabalham em vacina contra coronavírus

Reprodução / Pixabay

Pesquisadores do InCor trabalham para desenvolver vacina com partículas parecidas com o novo vírus, o que difere do método de outros países

Cientistas brasileiros estão desenvolvendo uma vacina contra o novo coronavírus com um método diferente do utilizado até agora por grupos de pesquisadores de outros países, que esperam que ela seja testada em animais nos próximos meses.

Partículas semelhantes ao vírus

No Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), a concentração é absoluta. Cientistas brasileiros de diversas áreas investigam há um mês uma vacina feita por meio de partículas artificiais parecidas com o novo coronavírus, segundo o médico Jorge Kalil, diretor do laboratório e coordenador do projeto.

Até agora, a maioria dos experimentos desenvolvidos em países como Alemanha e Estados Unidos são baseados em vacinas criadas a partir do material genético do agente causador da doença, mais especificamente, da inserção de moléculas sintéticas de RNA mensageiro (mRNA) – que contêm as instruções para produção de alguma proteína reconhecível pelo sistema imunológico – na vacina.

Mas Kalil, que está em isolamento, depois que seu filho foi diagnosticado com covid-19 (doença causada pelo novo vírus), afirma que esse caminho não dará os resultados esperados.

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“Acreditamos que essa maneira [adotada pelos outros países], apesar de segura, não induz a uma resposta imunológica muito forte”.

A premissa dos brasileiros é “não utilizar o material genético” por causa da pouca informação existente sobre o novo coronavírus, mas sim desenvolver estruturas similares a ele, afirma o médico Gustavo Cabral, responsável pelo projeto.

“Não conhecemos tanto o vírus e as informações que temos são insuficientes para projetar uma vacina que utilize material genético”, pondera.

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Essas estruturas multiproteicas parecidas com o novo coronavírus são chamadas “VLPs”, sigla em inglês de “virus like particles”. Elas são criadas em laboratório por meio de técnicas de biologia molecular e podem ser facilmente reconhecidas pelas células do sistema imunológico.

“A vacina que nós propomos  tem a parte externa do vírus, mas não tem o ácido nucleico dentro, que é o que permite a sua multiplcação”, explica Kalil.

“Podemos fazer com que na superfície dessa partículas tenha pedaços de proteína do coronavírus, para que o sistema imunológico o perceba como se fosse o pr[oprio vírus e seja capaz de produzir anticorpos contra essa parte do coronavírus que queremos atacar”, completa.

Objetivo é atacar uma parte específica do novo coronavírus

Um denominador comum de várias investigações contra o novo coronavírus é a forma de atacá-lo. Algo em que já se trabalhava desde as outras epidemias causadas pela família coronavírus.

A chave está nas pontas características dos diversos tipos de coronavírus, que têm um formato esférico, de onde se sobressaem “pequenas flores”, que na verdade são proteínas, esclarece Kalil.

“A ideia é desenvolver uma resposta imune contra essa parte específica”, pois é a que “facilita que o coronavírus entre na célula”, diz Cabral.

Fonte: R7