Esta crônica foi escrita em 1974 – quase 50 anos – e mostra bem como de lá para cá nossa Educação não saiu do lugar!!! Inacreditável!
Semana passada recebi o telefonema de uma senhora que me deixou surpreso. Pedia encarecidamente que ensinasse seu filho a escrever:
– O senhor escreve muito bem – completou
– Obrigado – agradeci – mas não acredite muito nisso. Nunca sei onde botar as vírgulas e vivo apanhando das crases. Dou o maior trabalho ao revisor!
– Não faz mal. O senhor pode trazer um revisor…
– Não dá minha senhora – desculpei-me – não tenho o menor jeito com crianças.
– E quem falou em criança? Meu filho tem 17 anos!
Comentei o fato com um professor amigo que disse: “Não se assuste, o estudante brasileiro não sabe escrever”. No dia seguinte ouvi de outro educador que “o estudante brasileiro não sabe escrever”. É evidente que existe algo por trás dessa dificuldade. Alguns professores afirmam que todo o ensino da língua portuguesa é deficiente e incompleto. Nos Estados Unidos, de um total de quase 12 mil minutos de aulas semanais, cerca de 4.600 são dedicados à língua inglesa. Na França acontece o mesmo.
– Também precisamos – informou um professor na sala de aula – aumentar aqui o número de horas dedicadas à língua vernácula!
– Que língua é essa? – perguntou um aluno ao coleguinha.
– Sei lá! Deve ser uma língua falada pelos árabes.
O Diretor do Depto. de Letras da PUC ficou impressionado com a qualidade dos textos no vestibular em uma redação sobre o Movimento Modernista de 1922, um dos poucos que conseguiu algo legível, escreveu: “O Movimento tem como característica principal se opor às ideias medievais onde predomina a falta de fé existindo somente um movimento renascentista que tentava contornar os problemas”.
Os mestres estão alarmados com esses vestibulandos que se encaminham para ocupar cargos importantes na sociedade brasileira.
– Fico preocupado – disse o diretor – imaginando como será nossa elite de amanhã
– Não se preocupe não, diretor. A elite de amanhã será a mesma de hoje. A elite nunca escreveu. A elite chama a secretária e dita.
O estudante brasileiro não sabe escrever porque não lê. Não lendo também desaprende a falar. Quantas palavras existem no universo vocabular de um estudante médio? Ontem conversei com um e contei: oito! Para essa geração que vem por aí a língua portuguesa se resume a oito palavras. É assim que nossa elite pretende formar um grande país. No vestibular da PUC mais de 50% dos candidatos não demonstrou um mínimo de organização mental para desenvolver um tema.
Quer dizer os estudantes não escrevem, não leem, não falam, não pensam e a prosseguir nessa regressão breve estaremos todos de tacape nas mãos reinventando a escrita cuneiforme. Neste dia então a palavra “escrever” ganhará uma nova grafia: ex-crever!
Carlos Eduardo Novaes – Acadêmico da Academia Caxambuense de Letras