“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

Primeiramente pelo fim, pela finalidade da coluninha.

Depois o Sextus e a Dorinha minha cunhada, que adoro. Aí melhora.

Hidroxocloroquina funciona para Covid19? Não funciona.

E Ivermectina funciona para covid19? Pior ainda.

E Vitamina D funciona para covid19? Não funciona

Anitta funciona? Não funciona

E Vitamina C, B, E previne covid19 – também não

E se tomar juntos?  Não dá certo também.

Tem algum outro remédio que funciona para prevenção? Não tem.

E já vou adiantar, porque pelo andar da carruagem, daqui a pouco surge um cara com “experiência inquestionável, com evidências incríveis, em 25 casos” dizendo que venenos para pulgas e carrapatos, tipo Detefon e Bravecto, seriam a certeza da cura ou prevenção da covid-19.  Mas empiricamente, tenho por mim que não funciona e só servem para pulga e carrapatos mesmo.

Dito isto passo ao Sextus Empiricus, um filósofo e médico Grego que viveu entre os séculos II e III dC., há 2000 anos. É do tempo do meu ídolo Raul Seixas. Criou uma filosofia que tomou o seu nome: “empirismo”.

Antes que alguém me julgue de cético por criticar o Sextus, meu colega de profissão, já adianto: tenho profunda admiração por ele. Foi um dos primeiros médicos a ter um raciocínio cientifico. Embora totalmente equivocado, foi o primeiro que tentou. Não digo que o Dr. Empiricus foi uma besta quadrada, mas que errou feio, errou.

Ele pensou o seguinte: vamos observar a doença, pois o remédio que foi bom para um caso vai ser bom em todos os outros casos semelhantes.

Só para exemplo:  arsenicum para todo mundo com tosse, dor de garganta, secreção nasal e espirros, pois uns caboclos que tinham estes sintomas tomaram este arsenicum, e foram curados. E ele fazia da mesma forma para todas as doenças.  Procurava o que havia dado certo para uma e repetia o mesmo remédio para todos semelhantes. Rasteiramente, e põe rasteiro nisto, seria assim o pensamento do Empirismo.

Só que o Sextus na sua simplicidade de pensar – embora tenha sido um homem inteligentíssimo – não sabia que os sintomas têm várias causas. Voltando ao exemplo, tosse, dor de garganta e secreção podem ser derivados de uma centena de doenças completamente diferentes – desde causas bacterianas, várias viroses e até alergia, até a Covid-19 que o Sextus nem sonhava com esta praga. Como pode o mesmo remédio medicar tantas causas? Pois que não pode mesmo. Então não, não tome arsenicum para a covid-19 e nem para gripe, pois vai dar com os burros n’agua.

Na verdade não é de todo inútil. Empiricamente iniciam-se os estudos científicos. Iniciam-se, fica claro. O que define é o resultado final destes ensaios da MBE. E nunca o empirismo.  

Como podemos saber se um remédio funciona para uma doença, então? Ai é que está. Não tem outra forma. Ensaios científicos, randomizados e duplo cego, controlados por instituição científica, e multicêntricos.  É trabalhoso mas não tem outra forma. Diz-se que é a Medicina Baseada em Evidencias (MBE).

A Dorinha, minha cunhada tão querida, fundadora deste jornal e que Sá Elisa levou, o que diria do empirismo para achar um remédio para a covid-19?

Diria, eu imagino: “é querer acertar o fiofó do mosquito voando.”

 E fica, por enquanto, o Ivomec para os currais onde é supimpa para Berne de bois e vacas, e até em humanos onde funciona para piolhos e sarnas. E deixa o Bravecto e o Detefon para pulgas e percevejos.

Mas tem uma turma que continua a martelar. Incrível. E tem quem tome!

Recomendo o Jorge Benjor. Extraordinária e atual a música que dá título à coluninha de hoje. Os alquimistas estão chegando, estão chegando os alquimistas.

Apêndice: A Ivermectina é uma droga muito antiga, usada mais em veterinária e se sabe que, entre outras ações, inibe a replicação viral (a multiplicação dos vírus). Como o corona é vírus, imaginou-se que podia ter ação. E teve ação no tubo de ensaio (quer dizer, in vitro, ou no vidro). Iniciaram-se, então, estudos em cobaias (isto é, in vivo). Percebeu-se que para ter a mesma ação precisava uma dose de 20 a 30 vezes maior do que no tubo. Com efeitos colaterais em consequência. Encerrou –se, assim, o estudo na fase pré-clínica. Ao menos em instituições basilares.

Dr. Edson Lopes Libanio é o atual Presidente da Regional Sul da Sociedade Mineira de Pediatria (pela 5º vez). É diretor Médico da Clínica Baependi. Foi diretor algumas vezes da Sociedade Mineira de Pediatria e da Sociedade Brasileira de Pediatria. Foi Auditor Médico do Ministério da Saúde por 30 anos. Foi Pediatra da SES MG. Tem inúmeros outros cargos classistas em sua história de vida, desde Diretor Clínico do HCMR algumas vezes até da diretoria da AMMG. Mas gosta de ser apresentado mesmo como um Pediatra do interior.