“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

A foto com LFV foi tirada na casa dele, em POA. Na época eu estava rodando o país com o “Espermatozoide…” – já havia ido de Pelotas e Manaus e ainda voltaria mais duas vezes ao Teatro São Pedro na capital gaúcha.

LFV foi quem me substituiu quando fui demitido pela primeira vez do JB. Era um cronista pouco conhecido no Rio, mas os cariocas logo se encantaram com o humor refinado e o estilo elegante de seus textos (inclusive eu!!).

Voltei para o jornal (pela mão de Ziraldo, que negociou meu retorno com o editor Walter Fontoura) e como Luis Fernando já fazia sucesso, ficamos os dois, eu no B e ele na Revista de Domingo. A partir daí realizamos algumas palestras juntos – eu falava 45 minutos e LFV cinco – e lembro de uma em Fortaleza onde a mesa foi enriquecida com a presença do poeta Paulo Mendes Campos.

Na palestra anunciei que tínhamos, eu e Luis Fernando, muita coisa em comum além da crônica: botafoguenses, tímidos (ele muito mais), ambos tocávamos sax, ambos casados com uma Lucia, mas também tínhamos nossas diferenças e uma delas me parecia a maior de todas:

– Luis Fernando é filho de Erico- fiz uma pausa – e eu de um militar!
(Talvez ali eu estivesse querendo justificar o fato de ele escrever melhor do que eu, diria um psicanalista)

Aquela noite, na casa dele, uma jornalista da Bloch chamada para cobrir nosso encontro soube que eu tocava sax e, como sabia que LFV era um saxofonista capaz de um dueto com John Coltrane, propôs que gravássemos um vídeo tocando juntos. Eu gelei!

Na verdade, conto para vocês, eu gostava de dizer que tocava sax, mas estava apenas nas primeiras lições e mal e porcamente arranhava algumas notas de My Funny Valentine. Respirei aliviado quando Luis Fernando disse a moça que não tinha outro sax disponível. Ela porem, queria porque queria fazer o vídeo e ligou para Alcione, a Marrom, que também estava se apresentando em Porto Alegre e perguntou se no conjunto havia algum saxofonista

– Pronto! Tá resolvido! – disse ela triunfante – Vou até o hotel da Alcione buscar um sax!
Quando estava saindo, com um pé na porta, eu perguntei:

– Você sabe qual é o tipo de sax?

– Ela disse que é um sax tenor!

– Ahhhh…então não vai dar. Eu só toco alto!

Carlos Eduardo Novaes – Acadêmico Correspondente da Academia Caxambuense de Letras