“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

O mundo visto de uma janela…

o mundo explode… primavera!

quantas flores perfumadas.

No peito a liberdade,

no coração amores e saudades,

acendo um cigarro… tão caro!

Olho a fumaça, ligo o rádio

lá vem notícias…

O mundo todo em conflito,

seqüestraram o Ministro,

invasão de mosquitos…

Isto me desanima!

Vai subir a gasolina,

estourou outra bomba,

não é primavera nem outono,

estou confusa… o cigarro apagou,

logo agora! O fósforo acabou…

Ouço um tango triste,

o último em Paris,

sinto-me feliz,

forte, capaz,

vou sair por aí

e pregar a paz…

Mas, meu sangue é escasso

que fracasso!

Sou um palhaço

que vive por ser preciso,

num turbilhão de risos

ouço a história do paraíso…

Glória, enfim conquisto

a aurora boreal.

A benção “seu” Cardeal!

Que fora! É Bispo ou Padre?

Não será o próprio Papa?

Que nada!

Um pedaço de marmelada,

minha mão fica melada,

me banho nas águas

da estância hidromineral,

que legal!

Outra vez a rotina,

mortes e seqüestros na Argentina,

o rádio pifa

Graças a Deus!

Um murro… volta notícia,

em Portugal o governo cai,

outro entra… mas logo sai…

bacalhau, salada de frutas,

em meio a tanta amargura

é pena de morte,

ninguém tem sorte!

Outro cigarro…buzina de carro,

um copo de vinho…

Português de Lisboa,

que coisa boa!

Bombas arrasaram com as quintas,

não haverá mais vinho no bar da esquina,

triste sina…

Que barulho faz Dona Maria,

mil palavrões ela grita,

o café a tantos paus,

que fazer afinal?

Peço um bife com fritas,

no prato um minúsculo filé,

dizem que é…

Mas não é nem “contra”,

é uma misera ponta

do rabo do pobre boi…

que era boi, mas que agora

é uma disputada vaca

nas filas da madrugada…

Empurrões… Vivas aos palavrões,

pobre e famintos cães…

nem osso lhes sobra,

o dono guloso o rói todo no almoço!

Estou de dívidas até o pescoço,

mas que se dane o mundo,

estou cansado, sujo magricela,

melhor… fecho a janela,

a poluição me sufoca…

Quisera ser uma foca…

Viver bem no fundo do mar,

azul ou verde, mas profundo…

Como os olhos daquele freguês,

não esperou sua vez,

furou a fila…que descanse em paz!

Era um bom rapaz.

Viva Israel, Palestina,

petróleo, café, parafina,

a mulata, o malandro, a granfina,

o ovo e a galinha…

Viva o operário padrão,

que sustenta filhos e irmão,

com o salário mínimo que o patrão

paga sem contestação…

Que vidão!

A vida passa…

gente morrendo…

gente nascendo…

E eu? Vou de metrô…

Levo uma flor

amarela e roxa,

guardo embaixo do braço…

ouço gritos, foi uma golaço!

Gol de placa; gol de raça…

está feliz a massa!

E a vida passa…

melhor fecho a janela…

a janela do mundo.

E eu passo…

A vida passa…

Não tem fim…

Orem irmãos, por mim!