Naquela mesa (travêssa… às avessas)
Senta-se o pai (que sempre trai)
a mãe (confiante)
o filho (mal criado)
e o espírito santo (blasfemado)
Amem! (fato consumado)
Naquela mesa (estridente e renitente)
senta-se o crente (fanático)
o profeta (barbudo e prepotente)
e o vidente (que só não prevê a sua sorte)
Senta-se
o incrédulo (que pleiteia um lugar no clero)
o branco (sempre pendurado no banco)
o preto (que não senta… é sentado)
o fraco (mal alimentado)
o pobre (que vive por teimosia)
e sua prole (que sustenta com salário mínimo)
Naquela mesa,
senta-se o rico (diabético, agiota, cretino)
o feio (pra uns …pra outros um esteio)
o bonito (péssimo estado clínico)
o negro (neurótico do Navio Negreiro)
o Grego e o Troiano (trapaceiros)
Senta-se,
o tirano (enfadonho)
o presidente (sorridente)
o ditador (que se diz senhor)
o sorridente (um safado)
e o sofredor (com seus cambalachos)
Mas, naquela mesa
senta-se
o imperador (com seus louros e fitas)
o imponente (que chora pelas batatas fritas)
Senta-se
o escravo (em úmida esteira)
o senhor (em suntuosa cadeira)
assim como senta-se
a dama (uma das mais elegantes)
tão cheia de fama (às escondidas em sua cama)
e a professora em pessoa (a sonhar com novo aumento)
senta-se a substituta (resoluta a mendigar)
a beata, mal amada (a pedir o paraíso)
a prostituta, a que mais luta (ave Seluta)
Naquela mesa
sentam-se as Américas, (náufragas de uma época)
Europa, Oceania, (onde guerra virou mania)
Exércitos, tropas (ansiedades e saudades)
hipocrisias… (meras fantasias)
senta-se o canhoeiro
o feiticeiro,
o pai de santo (todos o mercado consome)
o exu, o xangô
e o gigolô…
Naquela mesa
sentam-se todos
e todas…
Cada qual com seus direitos,
mas naquela mesa,
tenho certeza…
Não se sentará nunca
a velha Tereza
mera serviçal (INSS, FGTS, Sindical)
que morrerá
servindo aquela mesa. (onde repousará, finalmente, seus restos mortais)