Na madrugada fria,
uma mente devassa vagueia…
O pigarro amargo
do último cigarro
seca-lhe a saliva e o frio penetra pelas frestas
do casaco surrado
de um artista
malabarista da vida!
Na próxima esquina,
a figura esguia
de uma messalina
balefa e boceja
seu hálito de cerveja…
As latas de lixo,
com restos do luxo,
são remexidas
pelos cães vadios…
Gatos escorregadios
dão sinais de fome…
e o boêmio seresteiro
sorrateiro
explode suas canções,
por entre o frescor do sereno
e os primeiros raios de sol…
Uma porta se abre,
uma cama, um trago de vodka
um corpo só…
adormece em meio a naftalinas
e mofo dos álbuns de família
sono profundo…
enquanto num canto
o brilho de uma lantejoula
e purpurinas vedetes
se resumem nas lembranças
contidas no pequeno confete…
O boêmio adormeceu…
o cheiro do álcool permanece
aguardando o regresso da lua
que se foi…