“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

As mãos já não têm flexibilidade para lidar com coisas miúdas. Os dedos, agora tímidos, conversam entre si a respeito da hesitação em sustentar fluidezes: o sabão de barba na mão que não se arma mais em concha confiável – como as marinhas -, o movimento indeciso da tesoura que extirpa mal os pêlos do nariz, o corte já não bem-acabado das unhas, o percorrer de tantas outras coisinhas miúdas como o vapor no espelho – com o qual mantivemos diálogos manuscritos, solitários e corajosos. Tudo vai pouco a pouco se desmanchando em desenhos inesperados, esvaziados da minha história de vida.
Coisinhas miúdas não concertam mais com a complexidade comprometida da mão.
Mesmo frente a grande injustiças, os punhos não têm força para indignar-se e coroar o protesto com mãos fortemente cerradas, como as dos santos ou as dos condenados.
Só reconheço minhas antigas mãos quando as aproximo em concha, sopeso o carinho que elas resguardam e com dedos firmes percorro teu perfil no escuro. Com firmeza, por tê-lo decorado, ou por não acreditar, ainda, que estás há tanto tempo ao meu lado.

Carlos Emílio Faraco.

Acadêmico Correspondente