“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

Na noite da terça-feira, 14 de março, a Câmara de Baependi recebeu a primeira audiência pública para tratar do tema “Acessibilidade das pessoas com deficiência à educação, saúde, esporte, cultura e lazer”.

No plenário, além dos vereadores, a psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Faculdade São Lourenço, Vera Lucia Matos Rodrigues; representantes do Conselho Tutelar, representantes das secretarias de Assistência Social, Saúde e Educação do município, além do vice-prefeito de Baependi, Chico Barão, professores e pais de crianças com deficiência. Ao início da audiência, o presidente da Casa, vereador Jeferson Professor, afirmou que “tendo em vista o requerimento protocolado por Jane Izildinha Correia Lopes Pompeu, idealizadora e coordenadora do TEAjudo, pleiteando a possibilidade da audiência pública, esta presidência abraçou a causa e estamos unidos e prontos a debater esse assunto, tão delicado e importante para a sociedade”.

Vera Matos iniciou sua fala explicando sobre o autismo, um transtorno do neurodesenvolvimento, para o qual não há cura. Ela explicou sobre os diferentes níveis do TEA, sua hereditariedade e sobre a possibilidade de identificar a doença em bebês a partir de 4 meses de vida. “A cada 54 crianças, uma é autista. A nível de comparação, a cada 500, uma tem Síndrome de Down. Já se fala que a cada 44, uma é autista. Por isso, precisamos muito pensar, todos os municípios, o país inteiro, em que políticas públicas de saúde e educação estamos promovendo para essas crianças e adultos”, afirmou a psicóloga.

A especialista ainda respondeu a questionamentos dos vereadores, tais como a importância do professor de apoio em sala de aula para o autista. “Alguns precisam desse apoio educacional, mas ele pode ser retirado gradualmente. A coisa mais importante é que essa criança consiga conviver com crianças neurotípicas, porque crianças copiam comportamentos, e quando convivo com alguém que tenha um comportamento adequado, adaptado, eu vou aprender com essa criança, e essa pessoa será uma ponte para que essa criança seja inclusa na sala de aula. Mas não adianta se o conteúdo pedagógico não for adaptado”, explicou.  A psicóloga também mencionou sobre a importância da capacitação desses professores para melhor aprendizado do aluno.

Jane Izildinha, proponente da audiência pública, também falou na tribuna que fez o requerimento em nome de todas as mães atípicas para falar sobre as necessidades do município. “É preciso um neuropediatra para ontem, e outros profissionais, direito que é garantido por lei a todas as crianças e adolescentes com deficiência. Estou aqui para aquilo que é direito da pessoa com deficiência”, disse Jane. Ela ainda explicou de todas as dificuldades que as mães atípicas muitas vezes têm de compreender e entender o filho com autismo, muitas vezes elas não sabem o que fazer com a criança e não tem apoio nenhum. “Muitas mães dopam os filhos porque não aguentam, não sabem. (…) Não porque ela não goste do filho, porque ela não ame esse filho, mas porque ela não consegue compreender esse filho”, pontuou.

Segundo Jane, é preciso a criação de um Conselho Municipal do Direito das Pessoas com Deficiência, especialmente para apoio a essas famílias. “O que vamos fazer com a situação dos deficientes em Baependi? Não tem esporte, não tem lazer, na escola as dificuldades acontecem porque tem professores me ligando, então é necessário, sim, ter capacitação, acompanhante especializado, temos que ver o que é necessário para a criança. Por isso que o intuito dessa audiência é que a gente possa criar o conselho municipal do direito das pessoas com deficiência – que já existiu, deveria ter virado lei em 2012, mas estacionou”, relembrou.

Outras autoridades também tiveram a oportunidade de falar durante a reunião, como o pastor Júlio, da Igreja Horebe, que deu seu testemunho como pai de dois meninos autistas. Também a secretária de Assistência Social, Fernanda, afirmou que já está em processo a elaboração do projeto que criará o conselho. O presidente da APAE, Juliano, também falou das necessidades da associação, assim como o vereador de Caxambu e integrante da APAE daquele município, Julio da Corneta. A coordenadora de educação inclusiva do departamento de Educação, Claudineia, falou sobre as ações do departamento para a promoção de inclusão.

O presidente da Mesa Diretora, vereador Jeferson Professor, também teve seu momento de fala na tribuna. Jeferson começou explicando que passou por muitas dificuldades na infância e na adolescência, até que, já adulto, casado e com filhos, descobriu seu diagnóstico de TEA. “Minha filha foi diagnosticada com TEA e eu resolvi estudar psicologia para entender mais sobre o assunto. E durante uma aula, a professora Vera pediu para eu fazer o teste e ele deu positivo para o autismo”, contou. Jeferson explicou que, assim como ele, muitos têm essa dificuldade e nunca foi diagnosticado, tem pessoas que já são casadas e não sabem que são autistas. “Precisamos trazer isso à tona e essa audiência demonstra que nós estamos aqui como cidadãos preocupados com isso e dizendo que é normal. Por muito tempo eu tive vergonha e hoje não tenho. É um assunto que precisamos dar suporte, resolver”, afirmou.

Os vereadores também tiveram seu momento de fala durante a sessão, destacando a importância do tema. Uma nova audiência será realizada daqui a dois meses para apresentação de propostas para melhorar a inclusão de pessoas com deficiência em diversas esferas da sociedade baependiana.

Fotos: reprodução/ Câmara Municipal de Baependi