“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

EU E O POETA – CEN

Um belo dia a direção do Jornal do Brasil resolveu criar um programa de esportes na radio JB e chamou a
mim e ao Zé Inácio, que assinava a coluna que fora de Armando Nogueira, para apresentar.
Corta.
Um outro belo dia vejo o poeta Carlos Drummond de Andrade no corredor do jornal e corro até ele.
Drummond só aparecia no jornal para pegar a correspondência e na sua proverbial timidez entrava e saia na
ponta dos pés.
– Mestre! Me permita – cumprimentei-o – Queria muito conhece-lo pessoalmente!
Ele nem esperou que eu terminasse a frase e rebateu:
– Mas eu já conheço você!
– ????
– Ouço sempre seu programa de rádio…muito bom seu comentário sobre o Fla-Flu
Fiquei intrigado, não havia comentado nada sobre o Fla-Flu
– Não só ouço seu programa como leio sua coluna…
Fiquei mais intrigado ainda. Na época eu não tinha coluna
– Gostei muito – prosseguiu sem me deixar falar – daquela em que você conta sobre sua lente de contato
perdida…
Fiquei muito, mas muito mais intrigado: não uso lentes de contato
– O programa é muito bom – continuou – seu parceiro faz uma boa tabelinha com você. Como é mesmo o
nome dele?
– O nome dele? – eu jamais iria corrigir o poeta – É o Carlos Eduardo Novaes!
Corta.
Mais um belo dia, alguns anos depois contei o episódio em uma crônica (com todo cuidado para não fazer parecer que o poeta estava senil), o que me valeu um delicado cartão que guardo até hoje.

Carlos Eduardo Novaes (CEN) acadêmico correspondente da Academia Caxambuense de Letra