“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO

SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA”

Assim como Manuel Bandeira sonhou Pasárgada, Kurt Weil ao fugir da Alemanha nazista imaginou Youkaly, terra sem fronteiras onde todos eram amigos e os prazeres vastos e não havia o conceito de exilado. Sonhar é o que mantém o humano vivo, Quando o eixo declarou guerra ao mundo uma frente ampla foi formada, chamada de aliados, para derrotar o mal que ameaçava destruir a criação humana, a natureza, adestrar  as pessoas, controlar o pensamento, negar a existência e fabular nova história sobre pureza racial. Na época os judeus foram os escolhidos para ser a raça inferior e poderia ser descartada. Isto me remete aos nordestinos e negros também considerados inferiores no Brasil atual.

Voltando a Kurt. Ele e Bertolt Brecht eram parceiros em composição musical, Brecht fugiu também para os Estados Unidos assim como os brasileiros hoje fogem para Portugal. Os dois compuseram a ópera dos três vinténs que Chico Buarque transformou na Ópera do Malandro, uma comédia musical encenada pela primeira vez em 1978, mas ambientada no Estado Novo de Getúlio Vargas.

Em 1928 estreava em Berlim a Ópera dos Três Vinténs de Kurt Weil e Bertolt Brecht, uma crítica à sociedade burguesa que tolera a existência dum mundo marginalizado, contraventor e corrupto, inspirada na “Ópera do Mendigo” de John Gay. Então vemos que uma idéia de crítica a uma sociedade conservadora leva a outra. Não que o conservadorismo seja nocivo mas, atenção, caso exacerbado pode ser um perigo às tradições, ordem, família, a idéia de pátria e até de Deus porque o uso destes símbolos podem significar a desconstrução da família da pátria e de qualquer Deus, como, por exemplo se viu no Santuário de Aparecida.
Tergiverso. Mas infelizmente neste momento  sou transportada para a fuga de Weil, Brecht e tantos outros que precisaram fugir de soluções trágicas e de outros que não conseguiram.
Lembrei de um filme com temática infantil A Fuga das Galinhas mas que tem uma forte mensagem social. As galinhas desejam fugir. Durante uma reunião no galinheiro, uma amiga pergunta a Ginger se ela pensa em desistir, diante de tantos “planos fracassados”. A resposta é firme: Não. A companheira do galinheiro completa: “Encare os fatos, nós só temos uma chance em um milhão.” Ginger ressalta: “então, nós temos uma chance”. E ela realmente acredita no que estava falando.
Qualquer chance que se tenha torna tudo possível e elas fogem.

Isto aconteceu com os aliados ou frente ampla,como quisermos chamar, durante a segunda guerra mundial. Trabalharam em conjunto, se uniram e venceram.
O que moveu as galinhas a sair do galinheiro? Um simples desejo: Liberdade. O mesmo que moveu Weil e Brecht e Chico e Gay. É o que nos move: o desejo de liberdade. Sonhar com uma terra justa onde nossos direitos são respeitados, onde Jeny não seja apenas usada para salvar a cidade e ninguém jogue pedra nela nunca mais. E todos eles nos ensinam que liberdade se consegue com democracia que significa demos= povo; kracia = governo ou autoridade escolhida pelo povo e que governa em seu nome e benefício.
Quando um governo é exercido em benefício do povo ninguém precisa fugir ou temer .

Esther Lucio Bittencourt – Acadêmica da Academia Caxambuense de Letras