sábado, 19 de outubro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

No Brasil, mais de 40 mil pessoas aguardam por um órgão para transplante, segundo o Ministério da Saúde. A maioria (quase 90%) espera por um rim. O foco das preocupações recai quase sempre sobre a disponibilidade de órgãos, ou seja, sobre os doadores, mas outro fator, menos notado, impacta e muito o trabalho das equipes médicas mundo afora: o transporte dos órgãos.

De acordo com a Organização Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a logística inadequada responde por 5% a 10% das doações não concretizadas. Os transplantes, procedimentos complexos, envolvem a substituição de órgãos doentes por saudáveis, e o trajeto que eles percorrem entre o doador e o receptor exerce papel crítico nesse processo.

Segundo a ABTO, a Anvisa define regulamentos para o transporte de órgãos, de modo a garantir sua integridade e evitar contaminação. A escolha da via de transporte e embalagem apropriadas é crucial, já que, como ressalta a organização, problemas logísticos podem levar à perda de órgãos doados.

“Ainda hoje, os órgãos são transportados de forma quase artesanal, em coolers à venda em supermercados, onde eles são colocados junto com gelo. Em alguns locais, não há nem termômetros para monitorar essa temperatura, o que gera o risco, entre outros, do órgão congelar”, explica o professor Marcelo Sanches, da Faculdade de Medicina da UFMG, coordenador do Instituto Alfa Gastro do Hospital das Clínicas e responsável pelos transplantes de fígado da Unidade.

Uma solução promissora para o problema foi gestada na Escola de Arquitetura da UFMG: no fim de 2024, o designer Wallace Terra apresentou um novo design para transporte de órgãos. “Durante toda a graduação, pensava em como aplicar meus conhecimentos na logística de transporte e quando deparei com o transplante de órgãos, vi que havia ali muitos problemas a serem enfrentados”, destaca o pesquisador.

A ideia foi recebida com entusiasmo pelos profissionais do Hospital das Clínicas, que, durante um ano, trabalharam com o estudante para desenvolver a tecnologia. “Com o trabalho que desenvolvemos em conjunto com o Wallace, temos hoje uma excelente alternativa para enfrentar o problema do transporte de órgãos no Brasil”, afirma Sanches. O pedido de patente, intitulado Dispositivo para acondicionamento, preservação e transporte de órgãos para transplante, foi depositado pela UFMG, em julho de 2024 no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

A tecnologia

Segundo os pesquisadores, o dispositivo, feito à base de polipropileno (um termoplástico), visa oferecer facilidade, estabilidade e segurança, com o intuito de reduzir o estresse da equipe médica responsável pelo transporte e o estresse do próprio órgão. “Criamos uma alça adaptada, que serve tanto para a movimentação horizontal quanto para a vertical, quando se carrega a caixa para o porta-malas e depois para subir escadas”, explica Terra.

Para a parte interna do dispositivo, foi criada uma espécie de bolsa de silicone com filamentos inspirados, segundo os inventores, nas estrelas do mar. Assim, o órgão fica suspenso em meio à solução aquosa e não sofre impactos no interior da caixa, como ocorre com os dispositivos existentes. Essa redução de impacto pode diminuir o estresse do órgão, aumentando suas chances de aceitação para transplantes.

Para redigir o pedido de patente, analistas do Núcleo de Inovação da UFMG, vinculados à Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), fizeram buscas por tecnologias ao redor do mundo que se propunham a resolver o mesmo problema.

“Não encontramos tecnologias similares a essa, que não tem alto nível de complexidade, o que facilita sua produção por parte de empresas do ramo, e apresenta elementos novos e interessantes para ser incorporados ao transporte de órgãos no Brasil”, destaca o redator de patentes Nathan Giovanni.

O Núcleo de Inovação da Universidade procura agora empresas parceiras para a fabricação dos dispositivos. A intenção é usá-los em projeto-piloto do Hospital das Clínicas para o transporte de órgãos que serão transplantados.

Fonte e foto: Universidade Federal de Minas Gerais

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