quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

A guerra civil na Síria, iniciada em 2011, ganhou um novo e dramático capítulo neste final de semana. Grupos rebeldes islâmicos, que lutam contra o governo de Bashar Al-Assad, tomaram o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país, com cerca de 2 milhões de habitantes. Em resposta, as forças aéreas síria e russa intensificaram os bombardeios contra posições rebeldes, não apenas em Aleppo, mas também na província de Idlib, dominada por jihadistas.

Imagens compartilhadas nas redes sociais mostraram dezenas de homens armados desfilando pela cidade, que já havia sido tomada por rebeldes em 2016, mas foi recapturada pelo regime sírio com o apoio da força aérea russa. Relatos locais informam que os rebeldes impuseram um toque de recolher em Aleppo. Por outro lado, a agência de notícias oficial da Síria afirmou que o exército sírio se reagrupou na zona rural ao norte da cidade de Hama, ao sul de Aleppo.

A força aérea conjunta sírio-russa tem intensificado os ataques, visando locais estratégicos como quartéis-generais e depósitos de armas dos rebeldes. “Os aviões de guerra conjuntos sírio-russos estão intensificando os ataques aéreos nos locais, quartéis-generais, depósitos de armas e munições dos terroristas, deixando dezenas de baixas e mortes entre os terroristas”, declarou uma fonte militar síria à agência de notícias oficial Sana.

Em meio ao conflito, o presidente Bashar Al-Assad afirmou que seu governo é capaz de eliminar os rebeldes com o apoio de seus aliados. “O terrorismo só entende a linguagem da força, e é a linguagem com a qual iremos quebrá-lo e eliminá-lo, independentemente dos seus apoiantes e patrocinadores. Eles não representam nem as pessoas nem as instituições, representam apenas as agências que os operam e os apoiam”, declarou.

A ofensiva rebelde, que teve início na última quarta-feira (27), já causou mais de 300 mortes, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, além de forçar uma fuga em massa de civis. Entre os principais grupos envolvidos, destaca-se o Hayat Tahrir al-Sham (HTS), uma organização islâmica fundamentalista que nasceu em 2011 como um braço da Al-Qaeda, com uma ideologia jihadista, defendendo a imposição da Sharia, a lei islâmica.

O HTS tem se destacado como um dos maiores grupos que lutam contra o regime de Assad, e segundo a especialista Rashmi Singh, professora de Relações Internacionais da PUC Minas, o grupo foi originalmente uma facção da Al-Qaeda, mas rompeu com ela anos depois. Para Singh, a mudança no equilíbrio geopolítico, com a redução da influência do Hezbollah, abriu espaço para a intensificação da ofensiva rebelde, especialmente em Aleppo, cidade estratégica no conflito.

A guerra civil síria, que já matou cerca de 300 mil pessoas e deslocou milhões, também é vista como uma guerra proxy, onde potências globais se enfrentam indiretamente. O professor Mohammed Nadir, da Universidade Federal do ABC, explicou que a Primavera Árabe de 2010 foi usada pelas potências ocidentais para apoiar grupos armados e jihadistas, visando derrubar regimes como o de Assad. Os Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, e aliados como a Turquia e as monarquias do Golfo, como Arábia Saudita e Qatar, teriam apoiado os rebeldes.

Nadir também observa que a recente ofensiva rebelde pode ter uma dimensão estratégica, visando desgastar a Rússia, que tem interesse em manter sua base militar no país e acesso ao Mar Mediterrâneo. “A tomada de Aleppo pode ser também uma estratégia de desgastar a Rússia, que tem interesse em manter sua base militar com acesso ao Mar Mediterrâneo, na Síria”, comentou.

Apesar das dificuldades enfrentadas por Assad em perder Aleppo, Nadir acredita que será complicado para os rebeldes manterem a cidade sob seu controle, já que a aliança jihadista dificilmente abrirá mão da região. A reconquista de Aleppo, se ocorrer, promete ser sangrenta, dado o alto valor estratégico da cidade no contexto da guerra civil síria.

Com as informações da Agência Brasil

Foto: Melih Akkus

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