Em uma votação histórica realizada em Madri, botânicos de vários países decidiram, pela primeira vez, remover um termo racista dos nomes científicos de fungos, plantas e algas. A decisão impacta uma palavra que foi usada como insulto contra pessoas negras na África do Sul.
Além dessa medida, foi aprovado que, a partir de 2026, um comitê será responsável por avaliar propostas de novos nomes que possam ser considerados ofensivos. Esta decisão foi tomada durante as sessões sobre taxonomia que antecederam o Congresso Internacional de Botânica, que começa no próximo domingo, 21 de agosto, na capital espanhola.
A mudança afetará 218 espécies de plantas, 70 nomes científicos de fungos e 13 de algas, conforme a proposta original. O termo em questão é “caffra” e outros derivados do prefixo “caf”, originados de uma palavra árabe que significa “infiel” e usados historicamente para se referir a uma região do sul do continente africano. Durante o Apartheid na África do Sul, o termo adquiriu uma conotação racista significativa, conforme relatado pela revista Nature.
A proposta para a alteração foi apresentada por Gideon Smith e Estrela Figueiredo, taxonomistas da Universidade Nelson Mandela, na África do Sul. Os novos nomes das espécies substituirão o “c” por “affra” e derivados, mantendo uma referência ao continente africano, como relatado pelo jornal The Guardian.
Embora cerca de 500 botânicos tenham participado da discussão sobre taxonomia e uma proposta mais ampla para reavaliar nomes de espécies que contenham outros termos ofensivos tenha sido debatida, ela foi rejeitada. A medida aprovada determina que um comitê avaliará questões éticas relacionadas a nomes de novas espécies a partir de janeiro de 2026.
O debate sobre a mudança de nomes científicos que contenham termos ofensivos é um tema controverso e divide a comunidade científica. Muitas vezes, taxonomistas hesitam em alterar nomes de espécies devido às complexidades na revisão de bases de dados e possíveis implicações em legislações relacionadas a espécies ameaçadas de extinção. Em 2023, a Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica decidiu não modificar o nome de espécies como o besouro Anophthalmus hitleri, que foi nomeado em homenagem a Adolf Hitler.
Atualmente, as normas globais de nomenclatura para novas espécies não estabelecem diretrizes específicas sobre expressões proibidas. Os nomes científicos geralmente homenageiam pesquisadores ou fazem referência ao local de descoberta das espécies.
Com as informações do NexoJornal
Foto: TREE SPECIES/WIKIMEDIA