O ex-presidente Donald Trump quer trazer de volta um dos símbolos mais emblemáticos do sistema penitenciário dos Estados Unidos: a prisão de Alcatraz. Fechada desde 1963, a penitenciária localizada em uma ilha na baía de São Francisco, na Califórnia, pode ser reativada por ordem direta do ex-presidente, segundo declarou ele neste domingo (4) nas redes sociais.
“Quando éramos uma nação mais séria, no passado, não hesitávamos em trancar os criminosos mais perigosos e mantê-los bem longe de quem pudessem prejudicar. É assim que deveria ser”, escreveu Trump, que voltou a defender medidas mais duras de encarceramento.
A proposta surpreende por mirar uma instalação que hoje é um dos pontos turísticos mais visitados dos Estados Unidos, administrado pelo Serviço Nacional de Parques e reconhecido como Marco Histórico Nacional. Além disso, Alcatraz é lembrada por seu custo elevado de operação, condição estrutural desgastada e isolamento logístico — fatores que levaram ao seu fechamento há mais de 60 anos.
O republicano tem retomado pautas de segurança pública com forte apelo eleitoral. Para apoiadores, a proposta de reativar Alcatraz sinaliza um retorno a políticas de “tolerância zero”. Para críticos, trata-se de mais um gesto simbólico, com pouca viabilidade prática.
Uma prisão de lendas e fugas lendárias
Durante os 29 anos em que funcionou como prisão federal (1934–1963), Alcatraz ganhou fama por sua suposta impossibilidade de fuga. Nenhum detento teria conseguido escapar vivo, segundo o FBI, apesar de 36 presos terem tentado, em 14 ocasiões diferentes. Três homens — os irmãos John e Clarence Anglin e Frank Morris — desapareceram em 1962 e jamais foram encontrados, alimentando especulações, investigações e inspirando o filme “Fuga de Alcatraz”, estrelado por Clint Eastwood.
A prisão, apelidada de “A Rocha”, abrigou nomes infames como Al Capone e George “Machine Gun” Kelly. Seu isolamento geográfico — cercado por águas geladas e correntes marítimas fortes — foi sempre seu maior trunfo de segurança.
Do passado para o presente: barreiras legais e logísticas
Embora Trump tenha afirmado que “ordenou” a reabertura de Alcatraz, a execução dessa decisão enfrenta obstáculos legais e administrativos. A ilha está sob jurisdição do Serviço Nacional de Parques, e não do Departamento Federal de Prisões, responsável pelas penitenciárias federais.
Um porta-voz do Departamento de Prisões afirmou que a instituição “cumprirá todas as ordens presidenciais”, mas não comentou como isso seria feito, nem se há planos concretos para deslocar presos para a ilha, reformar suas estruturas ou reorganizar a administração do local.
Atualmente, prisões como a de Florence, no Colorado, e Terre Haute, em Indiana — onde ocorrem execuções federais — já cumprem o papel de unidades de segurança máxima.
A proposta de Trump levanta, portanto, mais dúvidas do que certezas. Alcatraz, que opera hoje como uma cápsula do tempo e destino turístico, corre o risco de virar palco de mais um embate político sobre crime, memória e o papel do Estado.
Com informações da Agência Brasil/ foto: Freepik