sábado, 19 de outubro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

Auditório completo e uma plateia ansiosa por conhecer a trajetória de Emmanuel Dias-Neto, um dos bisnetos do fundador da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Foi assim a tarde da última quinta-feira (08), que marcou mais uma comemoração pelos 117 anos da instituição. Emocionado em estar na Funed pela primeira vez, Emmanuel prendeu a atenção de todos ao contar, de uma maneira leve e descontraída, como a determinação o levou a estar onde está.

E como os dons artísticos também sempre fizeram parte da Funed, desde o seu início, não poderia faltar uma apresentação musical, conduzida pela servidora Luciana Soares Salomon, no piano, Robert Samuel Santos Gonçalves, na flauta transversal, e Elton Henrique Guimarães Muniz, no violão. Já a mediação do bate-papo ficou por conta da pesquisadora da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Funed, Luciana Silva, e, como entrevistada, juntamente com Emmanuel Dias-Neto, a coordenadora do Mestrado Profissional em Biotecnologia da Funed, Clara Guerra.

O presidente da Funed, Felipe Attiê, abriu o evento agradecendo as presenças ilustres não apenas de Emmanuel Dias-Neto, como também das bisnetas de Ezequiel Dias, Carolina e Cláudia Dias, que assistiram ao talk-show e, ao final, contaram um pouco da sua trajetória profissional. Para o presidente da Funed, o maior desafio é transformar a Funed em uma instituição de ponta, como a Fiocruz e o Butantã. “E não é uma luta fácil estar em um padrão desse, tendo uma realidade tão diferente, tanto em termos regionais como econômicos”, ressalta. Felipe Attiê, contudo, destacou os avanços alcançados até então e em como a pesquisa tem papel fundamental para a conquista de patamares ainda maiores. “A Funed tem uma função social muito grande. A saúde pública passa por aqui, seja pelos laboratórios públicos oficiais, pelos medicamentos que produzimos e pelas pesquisas aqui desenvolvidas”, completa.

Motivações

Emmanuel Dias-Neto veio de uma família de figuras ilustres, como o bisavô Ezequiel Dias, o avô Emmanuel Dias, médico e um dos responsáveis pelo reconhecimento da doença de Chagas como problema de saúde pública no Brasil e no continente americano, e do pai, Emmanuel Pinto Dias, que se formou em Farmácia pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1964, se dedicou aos estudos experimentais sobre esquistossomose no Instituto René Rachou (Fiocruz Minas) e faleceu em 1989. Contudo, o pesquisador sempre teve consciência de que o seu caminho deveria ser traçado por conta própria. “Na nossa família talvez nunca foi dito, mas sempre soubemos que não deveríamos ‘surfar’ na onda dos outros. Nunca foi dito que bastaria apenas nos orgulhar da nossa ascendência, mas que deveríamos abaixar a cabeça e fazer o nosso trabalho. Então, é o que eu procurei fazer”, conta.

O pesquisador graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1989, tem mestrado em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz (1994), e doutorado em Bioquímica e Imunologia também pela UFMG (1997), ano em que saiu de Belo Horizonte para fazer pós-doutorado em São Paulo. “Eu nunca tinha tido a oportunidade de estar aqui na Funed e estou muito feliz e emocionado. Ver as coisas do meu bisavô, que eu nunca tinha tido a oportunidade de ver, é muito curioso. Ele era uma figura que pairava na família, talvez pelo fato dele e também de meu avô e do meu pai terem falecido muito cedo. E quando você chega no auge do seu momento profissional, eles não estão mais aqui. É por isso que devemos trilhar o nosso caminho”, reflete.

Emmanuel conta ainda que a opção pela pesquisa científica veio de forma muito natural, despretensiosa e sem qualquer tipo de planejamento. “Eu me lembro que quando mais jovem eu andava de ônibus e passava pela Avenida do Contorno, perto da Rua Estevão Pinto, onde havia uma frase escrita em um muro que dizia: ‘Acontece o que a gente tece’. Então, eu acho que venho tecendo esse meu caminho. Acabei me fascinando pelo DNA e é o que eu estudo e faço até hoje. O câncer é uma doença do DNA e hoje isso é muito claro. Foi uma grande sorte que eu dei estar envolvido, desde o início, no desenvolvimento de tecnologias baseadas em genômica, pois abre inúmeras portas e possibilidades”, acrescenta.

Admiração pela Funed

Durante o talk-show, a plateia também teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a história da pesquisadora da Diretoria de Pesquisa e Inovação da Funed, Clara Guerra. “Estou me sentindo muito honrada e privilegiada de estar representando todos os meus colegas pesquisadores da Fundação e também o Mestrado, que é um empreendimento que tem como papel perpetuar e fortalecer ainda mais o legado do Ezequiel e tantos outros nomes importantes que passaram aqui, sempre visionários”, frisa.

Clara é bióloga, também formada pela UFMG, em 2005, com mestrado (2007) e doutorado (2011) em Bioquímica e Imunologia, ambos na UFMG. “Desde pequena, eu sempre gostei de ‘misturar’ as coisas, como os cremes da minha mãe, e nas brincadeiras eu sempre era a farmacêutica, ou a bioquímica, que fazia os exames e os remédios. Assim, quando eu fui prestar vestibular, eu tinha claro que queria ir para o lado do laboratório”, conta. Já o primeiro contato com a Funed foi em 2006, quando Clara veio fazer um curso com o professor Gutierrez. “Eu me lembro de ficar muito encantada com a instituição. É um lugar muito agravável, arborizado e bonito. O chão do laboratório do Ezequiel é muito bonito, antigo e histórico e eu fiquei muito emocionada de entrar em um lugar assim. Eu lembro de ter essa sensação e pensar que gostaria de trabalhar aqui um dia”, relembra.

Em 2014, Clara prestou concurso para a instituição e em 2016 foi chamada, mas para trabalhar na Diretoria do Instituto Octávio Magalhães (IOM), e não na pesquisa, como imaginava. “Porém, o tempo que eu passei na diretoria foi o momento que eu acho que eu me apaixonei de vez pela Funed, pois eu não tinha dimensão de tudo o que era feito aqui. A Funed é uma instituição única e a forma como ela é estruturada na pesquisa, no Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG) e na Diretoria Industrial a fazem singular e diferenciada”, revela. A admiração pelo IOM fez com que ela tivesse dúvidas quando foi chamada para atuar na Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, justamente pelo fato de ter tido a oportunidade de acompanhar o trabalho de excelência realizado no Lacen-MG. “Mas eu acabei indo para a pesquisa e me sinto muito privilegiada de poder estar onde eu quero estar”, destaca.

Além da trajetória profissional, o tema do talk-show: “Ciência aplicada à saúde pública” foi amplamente debatido pelos participantes. “Sabemos que nem toda pesquisa tem aplicação imediata, mas que ela ajuda a construir um caminho, uma vez que geram conhecimento. Foi muito rico conhecer a visão tanto do Emmanuel, quanto da Clara, a respeito dessa temática. Cada um trabalhando com uma área diferente: Emmanuel com genômica médica, e Clara com desenvolvimento de antivenenos, foi possível ver que, além de gerar conhecimento, podemos ter inovação”, reforça a mediadora e também pesquisadora da Funed, Luciana Silva.

Os participantes também fizeram pontuações importantes sobre os desafios científicos para o Brasil no momento, em termos de saúde pública, das possibilidades de fortalecer o desenvolvimento biotecnológico no país, e sobre a percepção de cada um sobre a carreira científica, se ela continuará atraente em um futuro próximo, e sobre a importância da definição de políticas públicas em ciência, tecnologia e inovação. “Um dos grandes desafios é fazer as autoridades enxergarem o papel da ciência. Precisamos mudar a visão dos nossos empresários e passar a enxergar mais o nosso potencial biotecnológico. É uma mudança de paradigma mesmo e a ciência tem que ser vista como uma área extremamente estratégica para o país. Os insumos para a ciência não podem ter a carga tributária que têm hoje. Onde eu trabalho hoje tem um ‘biodepositório’ de todas as empresas que vendem insumos que eu preciso. E tudo funciona de uma forma muito prática e rápida. Aqui no Brasil, se eu precisasse importar, seriam 60 dias, com uma carga tributária enorme. Precisamos pensar que podemos ser mais que o maior celeiro do mundo. Já passei da hora”, conclui Emmanuel Dias-Neto.

Fonte e fotos: Funed

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