Com 78,5% de casos encerrados neste início de ano devido à cura de 358 pacientes, a Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Montes Claros está intensificando as ações de mobilização dos 54 municípios que integram a sua área de atuação para o diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento de pessoas acometidas por hanseníase. Com apoio do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) de Montes Claros, com a realização de capacitações teóricas e práticas de profissionais que atuam em serviços de atenção primária, a Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS reitera que a circulação do bacilo transmissor da doença se mantém ativo no Norte de Minas.
“Tal situação exige atenção redobrada dos profissionais de saúde porque, nos últimos quatorze anos, na área de atuação da SRS Montes Claros, 63,75% dos casos notificados de hanseníase (1.346) foram classificados como sendo multibacilar, o que mantém ativa a disseminação da doença. Outros 488 casos (36,25%) foram classificados como hanseníase paucibacilar”, explica Siderllany Aparecida Vieira Mendes, referência técnica da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da SRS.
A diferença entre as duas classificações da hanseníase é a seguinte: a multibacilar apresenta mais de cinco lesões na pele e/ou baciloscopia positiva. Isso significa que a infecção pode ser transmitida de pessoa para pessoa e o paciente precisa manter tratamento por doze meses. Já a hanseníase paucibacilar não é transmitida entre as pessoas; causa até cinco lesões na pele do paciente e o tratamento dura seis meses.
“Com a maioria de casos com classificação multibacilar, os profissionais dos serviços de Atenção Primária à Saúde precisam ficar atentos para o diagnóstico precoce da hanseníase, pois os dados evidenciam que a doença está bastante ativa na região. Outro indicador importante é o grau de incapacidade física, que girou em torno de 13% dos pacientes acometidos por hanseníase no ano passado. Isso se refere a 36 casos descobertos tardiamente”, reforça Siderllany Mendes.
E os dados do Painel Epidemiológico da Hanseníase, mantido pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), evidenciam o alerta. Entre 2010 e 2024, de um total de 21.857 casos da doença diagnosticados no estado, a macrorregião de saúde Norte, composta por 86 municípios, contabiliza 3.749 notificações (17,15% do total). O painel aponta que em quatorze anos o Norte de Minas registrou 2.933 casos de hanseníase multibacilar (72,25%) e 814 casos classificados como paucibacilar (27,75%).
Na área de atuação da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros os municípios que apresentam a maior quantidade e percentual de casos notificados de hanseníase entre 2010 até o ano passado são: Montes Claros (1.252 casos – 68,27% do total); Janaúba e Salinas (62 – 3,38% do total para cada localidade); Capitão Enéas (41 – 2,24%); Espinosa (40 – 2,18%); Ninheira (38 – 2,07%); Porteirinha (26 – 1,42%); Bocaiúva e Jaíba (23 casos – 1,25% do total de casos para cada localidade); Monte Azul e Rubelita (19 casos em cada localidade e percentual de 1,04%).
Janeiro a janeiro
Também referência técnica da SRS de Montes Claros, Damaris Soares do Carmo avalia que a campanha lançada neste ano pelo Ministério da Saúde, “Hanseníase, Conhecer e Cuidar, de Janeiro a Janeiro” reforça a importância da mobilização dos profissionais de saúde e da população para as ações de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento da doença.
“A proposta da campanha é que sejam implementadas ações conjuntas entre os estados e municípios, visando a disseminação de informações e conscientização sobre a hanseníase ao longo de todo o ano, com o enfrentamento aos estigmas associados à doença e das barreiras sociais que dificultam o diagnóstico e o tratamento”, explica a referência técnica.
Dados do Ministério da Saúde apontam que entre 2014 e 2023 o país registrou 247,1 mil novos casos de hanseníase, dos quais 6,6% foram encerrados por abandono de tratamento. Esse índice passou de 4,5% em 2014 para 8% em 2023, o que representa um aumento de 78,7%. Tal situação, observa o Ministério da Saúde, “compromete a eficácia do tratamento; aumenta o risco de complicações graves; promove a resistência antimicrobiana e perpetua a transmissão da doença”.
Em janeiro deste ano vários municípios do Norte de Minas realizaram ações de mobilização e educação em saúde, com o repasse de orientações à população sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da hanseníase.
Tem cura
A coordenadora de vigilância em saúde da SRS Montes Claros, Agna Soares da Silva Menezes, lembra que a hanseníase é uma das doenças mais antigas que acometem o homem, com referências datadas de 600 anos antes de Cristo, quando era conhecida como lepra. O Brasil ocupa a segunda posição no mundo entre os países que, anualmente, registram casos novos da doença.
“A hanseníase é uma doença crônica, transmissível, de notificação e investigação obrigatória em todo o país. A doença tem cura. O tratamento é garantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com esquemas terapêuticos de seis ou doze meses na maioria dos casos”, explica a coordenadora.
A hanseníase possui como agente etiológico o Mycobacterium leprae, bacilo que tem a capacidade de infectar grande número de pessoas e atinge, principalmente, a pele e nervos periféricos. A doença é transmitida pela tosse ou espirro, por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente, sem tratamento. A doença evolui em aproximadamente 5% das pessoas que tiveram contato com o bacilo.
Sintomas
Os principais sintomas da hanseníase são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo, com perda ou alteração da sensibilidade ao calor ou frio, ao tato e à dor, que podem afetar principalmente as extremidades das mãos e dos pés, rosto, orelhas, pernas, nádegas e o tronco.
Também são sintomas da doença: áreas com diminuição de pelos e suor; dor e sensação de choque; formigamento; fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas; inchaço de mãos e pés; caroços no corpo; febre; edemas e dor nas juntas.
O tratamento farmacológico da hanseníase no SUS é feito com poliquimioterapia única (PQT-U), que associa três fármacos: rifampicina, dapsona e clofazimina.
Fonte e foto: SES-MG