Conhecimento científico e tecnológico em benefício da sociedade. Apesar do compromisso das instituições em retornar para a população, o investimento público feito em pesquisa, mas nem sempre isso ganha visibilidade. Na segunda-feira, 16, no entanto, uma das pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ficou estampada aos olhos de todos.
Um dos ônibus circulares da UFJF acaba de ganhar uma adesivação especial para mostrar que 30% do combustível usado ali vem da cozinha das pessoas. É óleo de cozinha reaproveitado, transformado em biodiesel. Esse é o primeiro teste em maior escala para fazer avaliações acerca do produto, para que, no futuro, seja possível diminuir a dependência dos combustíveis fósseis, reduzindo o impacto dos transportes no meio ambiente.
A queima dos combustíveis fósseis derivados do petróleo como gasolina e diesel é um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa do planeta, já o biodiesel produzido a partir do óleo de cozinha é um combustível com baixo teor poluente. Além disso, o descarte do óleo usado, que provavelmente iria para o lixo, aterros e rios, ganha um destino mais sustentável.
O projeto já havia feito testes com um caminhão da Empav, por meio da parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora, registrando o uso de 20%, 30% e 40% de biodiesel por três meses. Os dados obtidos permitiram replicar o teste agora no ônibus da UFJF, que passa a rodar com 30% do produto no tanque, de maneira contínua. Segundo o coordenador do projeto Plataforma de Biodiesel da Zona da Mata, professor do Departamento de Química da UFJF, Adilson David da Silva, não foi necessária nenhuma adaptação no veículo, que permanece apto a percorrer os mesmos trajetos com a mesma velocidade.
Já foram produzidos 5 mil litros de biodiesel pela usina de processamento instalada na unidade do Distrito Industrial (Cieptec) do Parque Tecnológico da UFJF. A máquina responsável pela conversão do óleo de cozinha em biodiesel é da empresa Green Fuels e foi cedida de forma não onerosa por um fundo de financiamento do governo britânico. O processo químico da produção é simples e dura poucas horas. É necessário apenas um reagente (por exemplo, a soda), que fará a quebra do óleo, e um solvente (como o metanol), que irá dissolver o material. A proporção final do produto é de, praticamente, um para um – um litro de óleo resulta em um litro de biodiesel.
“Hoje temos o controle dessa usina e condições de apresentar melhorias nos catalisadores (reagentes e solventes) e em todo o processo. Muitas sugestões saíram a partir do conhecimento do equipamento. Isso é muito importante quando se trabalha com uma Universidade: a visão dos pesquisadores sempre pode melhorar um projeto, apresentar avanços para a empresa”, diz o coordenador.
Em relação aos próximos passos da pesquisa, o professor conta que está em contato com uma transportadora para viabilizar o uso de 100% de biodiesel em um dos seus caminhões. Nesse caso, provavelmente seria necessária uma adaptação do motor do veículo e/ou do filtro do combustível.
Fonte e foto: Universidade Federal de Juiz de Fora