sábado, 23 de novembro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

Estimativas sugerem que cerca de 80% das pessoas com demência no Brasil não estão diagnosticadas. O problema é multifatorial, e o estigma faz parte dessa estatística. Para ajudar a melhorar o cenário, o Ministério da Saúde lançou na última sexta-feira (20) um fluxograma inédito para profissionais de saúde chamado Identificação da Demência na Atenção Primária. O objetivo é auxiliar no diagnóstico em tempo oportuno ainda no primeiro nível do Sistema Único de Saúde (SUS).

“A atenção primária tem um grande potencial, e aí ressalto também o papel dos agentes comunitários nesse cuidado, na identificação de sinais sutis de alterações comportamentais”, afirmou a coordenadora de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, Lígia Gualberto, durante o lançamento na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) em Brasília. No evento, a pasta também lançou o Relatório Nacional sobre a Demência: Epidemiologia, (re)conhecimento e projeções futuras, com uma análise de dados sobre o tema feita por um consenso de especialistas e com recomendações.

Na apresentação, ela mostrou que o atendimento a pessoas idosas com demência na atenção primária à saúde (APS) do SUS tem crescido nos últimos anos. Em 2023, foram 331.963, quase 100 mil a mais que em 2022 (com 253.966 registros) – e, neste ano, apenas os meses de janeiro a julho já somam 198.141 atendimentos, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab).

Entretanto, muitos diagnósticos são tardios, ou seja, ocorrem já em fases mais avançadas da demência. “É necessário desmistificar que a solidão e o isolamento, entre outros comportamentos que indicam sofrimento, seriam algo normal do envelhecimento, porque não são. A gente tem cuidados para ofertar e tem a oportunidade de atuar sobre fatores de risco e sintomas iniciais”, ressaltou.

Como funciona

O fluxograma foi apresentado pelo pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Paulo Caramelli, que lembrou que a demência também pode atingir pessoas mais novas, não apenas idosos, embora quanto maior a faixa etária, maior seja a prevalência. “Por esse motivo, certamente a demência deve ser incluída nesse rol de condições que profissionais da atenção à saúde primária devem conhecer e saber abordar, do ponto de vista diagnóstico, como já ocorre com hipertensão arterial e diabetes, por exemplo”, disse.

Há três etapas elencadas no documento: a identificação, por meio da Caderneta da Pessoa Idosa ou por demanda espontânea; o rastreio cognitivo inicial, que qualquer profissional de saúde pode aplicar com o paciente (método 10-CS) ou com o acompanhante (método QMC8), que inclui, por exemplo, a memorização de figuras; e a avaliação médica. Também há uma página ensinando a utilizar os questionários, além dos questionários em si, que podem ser impressos.

Outro ponto-chave levantado pelos palestrantes foi o papel da APS do SUS no apoio às famílias e cuidadores de pessoas com demência. “O diagnóstico oportuno permite o manejo terapêutico adequado e pode contribuir para diminuir a sobrecarga de familiares e cuidadores”, lembrou Paulo Caramelli.

Fonte: Ministério da Saúde

Foto: Marlon Max / MS

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