Já era quase meio-dia, hora em que o sol estava a pino no céu. José Alceu voltava para casa cortando caminho pela beira do Rio do Carmo, em Barra Longa, região de Mariana (MG).
Desde criança, ele ouvia a lenda de que ali vivia o Caboclo D’água, meio criatura, meio homem, que arrastava os desavisados para o fundo das águas. Mas, ele nunca tinha visto nada e não era homem de acreditar em tudo que ouvia.
Fazia uns cinco minutos que José caminhava por ali quando avistou, na margem oposta, uma forma que não soube definir. Alguma coisa se mexia no meio de uma touceira de bambu. Curioso, José ficou imóvel, esperando que o bicho saísse de onde estava.
Lentamente, ele viu a forma se mexer, e, à medida que se aproximava do meio do rio, José pôde ver melhor a criatura. Nesse momento, um arrepio passou por todo o seu corpo e ele prendeu a respiração. No sol da hora do almoço, ele pôde ver claramente a figura alta e esquelética, com pelos por todo o corpo e uma boca com presas afiadas – meio bicho, meio gente, meio assombração.
Era o Caboclo D’água. Sentindo-se paralisado de medo, José esperou imóvel até que a criatura mergulhasse e desaparecesse da sua visão. Então, com as pernas trêmulas, correu sem olhar para trás. Desde então, José nunca mais passou sozinho pelo Rio do Carmo e nunca mais duvidou das histórias que o povo conta.
A lenda, a cultura e os fatos
A história do Caboclo D’água está presente na cultura popular de vários lugares do Brasil, como as regiões ribeirinhas do Rio São Francisco, a cidade de Nova Era (MG) e cidades como Mariana e Barra Longa, localizadas na Região dos Inconfidentes, em Minas Gerais, além de algumas localidades do Espírito Santo.
Em cada canto onde a história é contada, ela ganha diferentes detalhes. Em algumas versões, o Caboclo protege os rios; em outras, a missão da criatura é defender uma caverna submersa cheia de ouro e pedras preciosas. Para alguns, é um monstro de dois metros de altura; para outros, um animal pequeno, “meio macaco, meio galinha”.
Em 2009, a história do Caboclo D’água ganhou novo fôlego, quando uma série de ataques foi registrada em Barra Longa. Entre os relatos publicados pelo jornal da região, na época, havia a história de um grupo de rapazes que foram atacados durante um banho de rio e precisaram ser salvos pelos bombeiros.
Apesar de nenhuma prova desse acontecimento ter sido registrada, de lá para cá, a busca pelo Caboclo D’água se tornou um dos principais objetivos de um grupo de interessados em eventos paranormais: a ACAM (Associação dos Caçadores de Assombrações e Monstros de Mariana).
O empenho da ACAM em esclarecer a história foi tanto que, em 2013, uma recompensa de 10 mil reais foi oferecida pelo grupo a quem apresentasse uma foto verídica da criatura.
Apesar do medo de muitos e da sua presença constante nas rodas de causos e histórias para assustar crianças, a relação do povo de Barra Longa com o Caboclo D’água está longe de ser ruim.
Em 2011, uma estátua de dois metros de altura foi erguida em homenagem a essa criatura da cultura local e colocada no portal da cidade. A obra foi inaugurada em um evento chamado 1ª Festa do Caboclo D’água, provando o gosto do povo mineiro pelo folclore e contos populares.
E você, acredita no Caboclo D’água?
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Na próxima semana: O caso da Bruxa de Curitiba, uma criatura jovem de dia e idosa à noite, que até hoje assombra os bosques das antigas colônias italianas.
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