A nomeação de Iracema Tavares Dias como promotora de Justiça da comarca de Guaranésia completou 90 anos nesta segunda-feira, 5 de maio. A jovem mineira, com apenas 23 anos na época, entrou para a história ao se tornar a primeira mulher a ocupar esse cargo no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e em toda a América Latina. A nomeação foi feita em 1935, pelo então presidente do Estado, Benedito Valadares.
Segundo o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, o ato representa um passo fundamental na presença feminina dentro do sistema de Justiça. Ele destacou que a conquista de Iracema ocorreu em um contexto social em que a participação das mulheres no setor público e jurídico era extremamente restrita.
O feito foi destaque na capa do jornal Estado de Minas, que noticiou: “Mais uma victoria do feminismo. Uma senhorinha nomeada promotora de Justiça da Comarca de Guaranésia”. O texto também ressaltava o ineditismo da nomeação e a formação acadêmica de Iracema, referindo-se a ela como “a bacharela Iracema Tavares Dias”.
Iracema nasceu em 1912, na própria Guaranésia, cidade batizada por seu avô, o coronel e senador estadual Júlio Tavares. Filha de Francisco Idelfonso Dias e Gardência Tavares Paes, cresceu em uma família tradicional e proprietária de terras. Ela iniciou os estudos em sua cidade e concluiu o ensino médio em Muzambinho. Aos 17 anos, foi morar em São Paulo com o tio-padrinho, advogado, e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, atual Universidade de São Paulo. Lá, estudou com Amélia Duarte, que mais tarde também faria carreira no Ministério Público do Rio de Janeiro.
Dois anos após ser nomeada promotora, Iracema casou-se com Mário Nardi, descendente de imigrantes italianos, com quem teve três filhos: Mário, Aloysio e Antônio. O primogênito seguiu os passos da mãe e também se tornou promotor de Justiça. Após a morte do marido, em 1951, ela se mudou para Belo Horizonte ao ser promovida para a terceira entrância. Cinco anos depois, assumiu o posto de primeira curadora de crianças e adolescentes do estado, função que exerceu até sua aposentadoria em 1967, aos 54 anos, encerrando uma carreira de 32 anos no serviço público.
Em 2008, Iracema foi homenageada com a Comenda do Ministério Público de Minas Gerais Francisco José Lins do Rego Santos. Em entrevistas, recordava as dificuldades do início, mas sempre destacou que teve seu trabalho respeitado. “Sempre fui respeitada e nunca pressionada no exercício de minhas funções públicas”, afirmou certa vez. Ela faleceu em 22 de abril de 2010, aos 98 anos, deixando nove netos e oito bisnetos.
Por Eduardo Souza
Com informações e foto: Ministério Público de Minas Gerais