sábado, 19 de outubro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

As mulheres atingidas pelo rompimento da barragem em Brumadinho realizam, nos dias 14 e 15 de setembro, em Belo Horizonte, o “II Encontro das Mulheres em Defesa da Vida”. O evento é organizado pelas mulheres do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que convidam as atingidas de toda a Bacia do Paraopeba e Lago Três Marias, entidades parceiras, instituições de justiça e mandatos parlamentares a participarem do evento.

Na ocasião, as presentes debaterão o acesso à políticas públicas que garantam direitos às mulheres, como programas de habitação e geração de renda, e o acompanhamento da saúde integral para mulheres. Além disso, serão discutidos conjuntamente os desafios e metas para alcançar uma reparação integral sobre o crime no território.

Entre as 272 vítimas fatais do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, de propriedade da Vale, 62 eram mulheres, sendo duas delas gestantes. Vale destacar que as mulheres são as principais vítimas dos crimes socioambientais cometidos pelas mineradoras em Minas Gerais de forma mais geral. Os danos causados pela contaminação da água e da natureza, os impactos socioeconômicos, como a perda de renda e o adoecimento generalizado que o crime da Vale trouxe à Bacia do Paraopeba e Lago Três Marias, atingem majoritariamente as mulheres.

“Ser mulher atingida é ter sua vida e seus sonhos completamente modificados por um empreendimento implementado em seu território, sem ninguém ter te consultado, ou informado as possíveis consequências”, pontua Joelisia Feitosa, atingida do município de Juatuba.

Defensoras da vida

Para Michelle Regina, atingida da Colônia Santa Isabel, em Betim (MG), a organização das mulheres é fundamental não só para o processo de reparação a crimes socioambientais, mas para garantir a defesa da vida e do povo. Na sua avaliação, são as mulheres que estão à frente da proteção da vida quando os conflitos ameaçam comunidades e o meio ambiente. “Sabemos o que essas mudanças causam no cotidiano de nossas casas, de nossas famílias. Somos capazes de identificar rapidamente as transformações. Devemos tomar consciência disso e nos tornarmos sujeitas dessa história, propondo mudanças, nos organizando para superar os problemas e construindo uma sociedade mais justa. Porque lutar por direitos humanos é lutar pela solidariedade e justiça social”, enfatiza.

Duplamente atingidas

Dados publicados em 2023 pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS), assessoria técnica independente (ATI) que atende municípios atingidos pelo crime em Brumadinho, revelam que em cidades como Betim, Mário Campos, Igarapé e Juatuba (ambos localizados na região 2 da Bacia do Paraopeba), as mulheres são maioria entre as pessoas atingidas. O dossiê revela, ainda, que 65% dessas mulheres são negras e cerca de 57% têm entre 19 e 54 anos. Ou seja, a maioria das mulheres atingidas pelo crime estão em idade economicamente produtiva e muitas delas dependiam diretamente do Rio Paraopeba para sua subsistência, como as pescadoras, agricultoras e artesãs.

Michelle ressalta outras violações vivenciadas. “A lama e a poeira ainda estão nas vilas, nas ruas, nos quintais, na calha do rio e nas residências. Isso afeta diretamente a rotina da vida das mulheres. Aumento do trabalho doméstico, uma situação que instaura também o constante medo de contaminação pelo pó desse rejeito. É o crime se renovando na vida cotidiana da população atingida e duplamente na vida das mulheres”.

Ilza Marcia Ribeiro, de Brumadinho, reafirma a importância da luta e organização: “Ao invés disso nos paralisar, somos motivadas a construir a organização popular, no MAB. Cada luta que construímos, cada formação que participamos nos tornamos mais conscientes dos problemas que nos cercam e ficamos mais capazes de atuar na história para mudar essa realidade”.

Histórico

A primeira edição do Encontro de Mulheres Atingidas em Defesa da Vida foi realizada em 2022 na comunidade de Citrolândia em Betim. No encontro, elas cobraram das Instituições de Justiça políticas e programas que garantissem a efetiva escuta e participação das mulheres na tomada de decisões e que as especificidades enfrentadas pelas atingidas também fossem levadas em conta para o processo de reparação.

Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens

Foto: Amélia Gomes / MAB

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