Desde o início de 2024, a Supervia, concessionária responsável pela operação da malha ferroviária urbana no estado do Rio de Janeiro, registrou o furto de mais de 62,78 quilômetros de cabos, de acordo com dados compilados entre janeiro e novembro. Esse número representa uma redução de 26,2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 85,12 quilômetros de cabos foram furtados.
Apesar da queda significativa, a prática criminosa ainda representa um grande desafio tanto para a segurança pública quanto para a própria concessionária, que enfrenta há anos dificuldades decorrentes dessa modalidade de crime. Em abril de 2024, o mês com maior número de furtos, foram registrados 7,32 quilômetros de cabos subtraídos. Por outro lado, o mês com o menor índice foi outubro, com 4,07 quilômetros furtados.
A Supervia acredita que a redução observada neste ano é fruto de um conjunto de ações de segurança implementadas ao longo de 2024, incluindo a adoção de nanomarcadores. Essa tecnologia consiste em um verniz especial aplicado sobre os cabos, o que torna possível a identificação dos materiais, mesmo em casos de queima ou raspagem, práticas comuns entre os criminosos.
“Com a solução, que é permanente, os técnicos conseguem saber no receptador ilegal se o cabo é ou não da concessionária. A tecnologia permite também saber a origem do fio, mesmo se o receptador queimá-lo ou raspá-lo, que são práticas comuns entre os criminosos”, afirmou a Supervia em nota oficial.
Além disso, a companhia destacou o aumento no número de agentes envolvidos no Programa de Integração de Segurança da Polícia Militar (Proeis). “Em média, há seis homens em cada estação e no ‘cinturão’ – estações próximas que também podem ser burladas”, complementou a concessionária.
Apesar da redução nos números, a Supervia segue preocupada com a persistência dos furtos, que continuam a afetar a operação dos trens na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. “O furto de cabos ainda é um problema persistente que atrapalha a complexa operação dos trens”, destacou a nota.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro, em resposta à demanda da Supervia, informou que mantém o policiamento nas áreas das estações ferroviárias e que atua em apoio à concessionária sempre que solicitado. Além disso, a corporação trabalha em parceria com a Polícia Civil, visando à identificação e prisão dos responsáveis pelos crimes.
De janeiro a outubro de 2024, foram registradas 497 ocorrências de furto de cabos, resultando na prisão de 703 pessoas. A Polícia Militar também apreendeu cerca de 34 toneladas de cabos, em um esforço contínuo para reduzir os impactos desse tipo de crime.
A Polícia Civil, por sua vez, segue investigando os casos. A Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) realiza operações constantes contra ferros-velhos ilegais, que frequentemente se tornam receptadores do material furtado. “Diligências estão em andamento para identificar e responsabilizar toda a cadeia criminosa”, informou a Polícia Civil em nota.
A Supervia opera uma malha ferroviária com aproximadamente 270 quilômetros de extensão, composta por cinco ramais, três extensões e 104 estações. O furto de cabos é apontado pela concessionária como uma das principais causas de suas dificuldades financeiras e da baixa qualidade dos serviços prestados. Interrupções nas viagens e a superlotação dos vagões têm sido uma realidade frequente, em meio à crise financeira que afeta a empresa há alguns anos.
“O furto de cabos prejudica todo o planejamento e afeta os intervalos entre os trens, porque o comando para o maquinista seguir viagem passa a ser feito por rádio pela equipe de controladores que atuam no Centro de Controle Operacional (CCO), e não mais de forma automática. É como se os sinais de uma avenida tivessem apagado e o controle do trânsito passasse a ser feito por um guarda. Por isso, os trens passam a viajar de forma mais lenta, para garantir a segurança operacional e a vida de todos os colaboradores e clientes”, explicou a Supervia.
Em 2021, a empresa entrou em recuperação judicial, reportando um prejuízo de R$ 1,2 bilhão, um cenário agravado pelos efeitos da pandemia de covid-19, pelo congelamento das tarifas e pelos recorrentes furtos de cabos. O governo estadual, por sua vez, considera as explicações insuficientes e cobra mais responsabilidade da concessionária.
A crise levou a um acordo entre o governo do Rio de Janeiro e a Supervia, visando a transição do serviço até a realização de uma nova licitação. O processo, que deve durar entre seis a nove meses, foi oficialmente homologado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) no início de dezembro de 2024.
O acordo inclui um investimento de R$ 450 milhões, sendo R$ 300 milhões provenientes do estado e R$ 150 milhões da própria concessionária. Esse montante será direcionado a melhorias e à manutenção da malha ferroviária, com o objetivo de recuperar a operação do sistema até que a licitação seja realizada.
Com as informações da Agência Brasil
Foto: Henrique Freire / Governo do Rio de Janeiro