Os furacões, muitas vezes descritos como “máquinas a vapor da natureza”, são alimentados pelo aquecimento das águas oceânicas. À medida que viajam sobre os oceanos, convertem o calor do mar em grandes quantidades de energia cinética, resultando em tempestades devastadoras que podem arrasar ilhas e inundar cidades costeiras, causando danos que exigem meses de reparação.
Com as temperaturas oceânicas atingindo novos recordes, os furacões estão se comportando de maneira diferente. Eles seguem trajetos imprevisíveis, diminuem a velocidade e se tornam mais perigosos. Isso gerou uma corrida para entender como esses “motores” naturais estão alterando os padrões observados anteriormente, com a esperança de nos adaptarmos a essas mudanças.
Estação Mais Longa
O ciclo sazonal dos furacões no Oceano Atlântico apresenta um padrão distinto: poucos furacões no verão do hemisfério sul e um pico em setembro. No entanto, com as mudanças climáticas, espera-se que a temporada de furacões comece mais cedo e seja mais intensa, conforme observado pelo cientista climático James Kossin, aposentado da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA).
Kossin explica: “Os furacões apenas reagem ao ambiente onde se encontram. Se o ambiente em junho se assemelha ao de agosto ou setembro, os furacões agirão como se fosse agosto ou setembro. Eles não têm um calendário.” A atual transição entre os fenômenos El Niño e La Niña, que tende a intensificar a atividade das tempestades, também contribui para essa situação.
A professora Kristen Corbosiero, do Departamento de Ciências Ambientais e Atmosféricas da Universidade de Albany, destaca que a temperatura do oceano deve atingir os níveis necessários para a formação de furacões mais cedo, resultando em temporadas de furacões mais longas e antecipadas. No entanto, Suzana Camargo, professora de física climática e oceânica da Universidade Columbia, afirma que ainda é cedo para observar mudanças consistentes na estação dos furacões.
Intensificação Rápida
Recentemente, furacões como o Lee, que atingiu a categoria 5 em setembro de 2023, mostraram uma intensificação rápida apesar das condições que deveriam ter limitado seu crescimento, como o aumento do vento cortante devido ao El Niño. Hugh Willoughby, professor de pesquisa da terra e meio ambiente da Universidade Internacional da Flórida, explica que o vento cortante pode danificar a estrutura dos furacões, mas o extraordinário aquecimento dos oceanos pode ter compensado esse efeito.
Willoughby aponta que a maioria dos furacões no Oceano Atlântico não atinge seu potencial máximo devido a condições adversas, como vento cortante. No entanto, quando todas as condições são favoráveis, os furacões podem se intensificar rapidamente, alimentados pelo calor do oceano. James Kossin ressalta que o aumento da temperatura do oceano fornece mais “combustível” para as tempestades, acelerando sua intensificação.
Pico de Intensidade e Redução da Velocidade
A intensidade máxima dos furacões tem aumentado com as mudanças climáticas. Um estudo de 2020 revelou que a intensidade das tempestades aumentou cerca de 6% por década desde 1979, e a probabilidade de furacões atingirem velocidades de 180 km/h é 25% maior do que há 40 anos. O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) confirma que a proporção de ciclones tropicais de categoria 3 ou superior está aumentando.
Apesar do aumento da intensidade dos ventos internos dos furacões, seu movimento ao longo do oceano e da terra está se tornando mais lento. Um estudo de 2018 descobriu que a velocidade dos furacões próximos aos EUA diminuiu cerca de 17% desde o início do século 20, e ciclones tropicais no Pacífico Norte ocidental tiveram uma redução de até 20%. Esse movimento mais lento é atribuído ao aquecimento desigual causado pelas mudanças climáticas, que reduz o gradiente de temperatura entre o Ártico e os trópicos, influenciando a velocidade dos ventos e, consequentemente, a velocidade dos furacões.
Kossin explica que a diminuição do gradiente de temperatura reduz a força dos ventos, o que retarda o movimento dos furacões. Assim, os furacões se tornam mais lentos ao longo de seu trajeto.
Com as informações da BBC
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