Faça de conta
que nada aconteceu,
depois daquele toque,
daquele olhar.
Faça de conta
que não nos
descobrimos bichos,
nem houve aquela
estrela maior, só nossa.
Esqueça o gesto na nuca,
os pactos de terra e água
e a oração compartilhada.
Esqueça os cristais, os planos,
as siglas, os sinais,
o desmaio, o arrepio.
Esqueça que aprendeu
a ouvir calado,
o que, antes,
eu nem sabia dizer.
Esqueça nossos medos e culpas,
a cumplicidade,
a telepatia, o encantamento.
Ensurdeça para as músicas
que pensávamos nossas!
Ignore o lenço molhado de cheiros,
prazeres e lágrimas.
Esqueça que você lia,
em branco,
tudo o que eu queria dizer
e que eu, em silêncio, respondia
tudo o que você esperava ouvir.
Faça de conta
que tudo não passou de um sonho,
que somos metades de um amor perfeito, sim,
mas feitos de pura ilusão,
grande equívoco
e muita imaginação!
Guiomar Paiva
Acadêmica fundadora da Academia Caxambuense de Letras.