Cartas e cartas do Kafka zombando da minha incapacidade de dar continuidade à minha correspondência. Talvez por isto. Não consigo mais brincar de ligar os nossos ditos, olhares, futuros. Tento disfarçar, mas as diferenças são enormes. Não escrevo pra agradar, entretanto não queria desagradar. Sei que estou construindo muros, mas não consigo deixar de empilhar tijolos. O roteirista da minha vida gosta demais daquele trecho de Ligações Perigosas: não é minha culpa, um descaralhamento só, porque obviamente era culpa dele, Valmont, e é culpa minha, é minha culpa pra caraleo, mas nem o repetir do divã me liberta deste papel. Vem aí a pequena cirurgia e eu penso, claro, que se eu morresse muita coisa se resolveria. Depois eu rio. E mar. Como uma onda, o sentir. Me dá um caldo. Levanto sacudindo o cabelo, tossindo muito, olhos ardendo e areia até na alma. Mas levanto. E levanto cantarolando Volta por cima – aqui é cultura de botequim, baby. Não encontro meu lugar nos ambientes online. O twitter é pesado, cheio de questões que me fazem detestar os seres humanos. O insta grita a modorra da minha vida. E o substack é angustiante, a sensação de que todos são eficientíssimos na produção semanal do seu conteúdo. Eu sou boazinha, não tenho eventos disruptivos todo dia pra fotografar e mal consigo enfileirar frases mesquinhas em dois, três parágrafos. Sinto imensa falta do combinado blogs + Facebook-de-outrora (o de hoje em dia é outra rede, embora mantenha a alcunha). O blog pra registrar e ler diariamente o comezinho da vida, sem a sensação de que todo mundo está escrevendo o novo grande romance americano. O facebook para as risadas compartilhadas, as confissões, a troca de receitas, o bem saber do viver de quem eu gosto e o bem viver do que se dava a saber pra mim. Estrangeira. Exilada. Forasteira. Sigo os dias com a sensação de que já escrevi os meus melhores textos.
Luciana Nepomuceno Acadêmica Correspondente