Em uma iniciativa para valorizar as lutas históricas da comunidade surda brasileira em defesa dos direitos linguísticos e da educação dos surdos, o Departamento de Educação (DED) e o Departamento de Gestão Educacional, Teorias e Práticas de Ensino (DPE) da Universidade Federal de Lavras (UFLA) promoveram, nesta semana, o seminário “Dia Nacional do Surdo: Luta pela Educação Bilíngue”, no Salão de Convenções da Universidade.
O evento atraiu cerca de 200 participantes, incluindo estudantes, professores, profissionais da educação, membros da Pró-Reitoria de Apoio à Permanência Estudantil (Prape), representantes da Prefeitura Municipal de Lavras e integrantes do Centro de Apoio às Necessidades Auditivas e Visuais (Cenav). Segundo o docente da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas, Educação e Letras (Faelch) Tales Douglas Moreira Nogueira, o seminário representa uma oportunidade valiosa para refletir sobre a educação bilíngue e promover a inclusão. “Estamos lembrando a data e, ao mesmo tempo, dando visibilidade à comunidade surda, para que possamos exercer nossos direitos, incluindo o acesso a intérpretes e o uso da Libras dentro da universidade. O objetivo da UFLA é transformar a sociedade e impactar a vida de cada pessoa, e por isso realizamos este seminário”, afirmou Tales.
Além do professor Tales Nogueira, o evento contou com a coordenação da professora Erica Alves Barbosa (DPE/UFLA) e do intérprete/tradutor de Libras, Wanderson Samuel Moraes de Souza. “Foi um evento que reuniu professores da educação básica, comunidade surda de Lavras, docentes e discentes da UFLA para uma discussão que precisa de visibilidade”, considerou Erica Barbosa.
A professora Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foi convidada a apresentar a palestra “Educação Bilíngue de Surdos: a Importância do Trabalho Escolar para o Desenvolvimento da Libras”. Segundo a pesquisadora, o Brasil tem avançado nesse tema nos últimos 20 anos, mas ainda enfrenta muitos desafios. “A questão é como introduzir a Libras nas escolas, especialmente para crianças pequenas, para garantir um bom desenvolvimento. Isso ainda representa uma barreira, pois não é uma tarefa simples. As abordagens que as escolas têm adotado nem sempre funcionam. Se na educação básica a qualidade do ensino não melhorar, não conseguiremos preparar alunos para o ensino superior. Precisamos aprimorar a educação básica para que mais estudantes se sintam motivados e seguros para ingressar na universidade”.
Atualmente, a UFLA conta com duas estudantes surdas e um docente. O chefe de gabinete, professor Alexandre Fillordi de Carvalho, destacou que a Universidade possui um programa de acolhimento para estudantes surdos. “A UFLA abraça a inclusão e demonstra para a sociedade civil que é uma universidade humanizada, que não apenas reconhece as diferenças, mas que se abre, por meio de estratégias educacionais, para todos. Ela é uma universidade democrática, independentemente das singularidades corpóreas ou especificidades, criando oportunidades para que todos estudem, aprendam e tenham acesso à pesquisa, à extensão e à cultura”, disse Alexandre.
Além da palestra, o seminário contou com exposição de obras da artista surda e ARTivista internacionalmente conhecida Nancy Rourke, e um teatro com o ator Gercele Vieira, do Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) de Belo Horizonte. A mobilização do Dia Nacional dos Surdos tem suas raízes na história da educação de surdos no Brasil. Oficializado em 2008 por meio do Decreto de Lei nº 11.796, o dia 26 de setembro foi escolhido em homenagem à fundação da primeira escola para surdos do País, inicialmente chamada de Imperial Instituto de Surdos-Mudos (IISM). Fundado por volta de 1857, na cidade do Rio de Janeiro, o instituto é atualmente conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines).
Fonte e foto: UFLA