sábado, 19 de outubro de 2024
“NÃO SE PRESERVA A MEMÓRIA DE UM POVO
SEM O REGISTRO DE SUA HISTÓRIA.”

Setembro foi um mês crítico em Aiuruoca, marcado por um aumento significativo de incêndios florestais. No dia 8, um incêndio começou dentro do Parque Estadual da Serra do Papagaio, em uma área de difícil acesso. As condições eram complicadas: forte calor, umidade extremamente baixa e ventos intensos dificultaram o trabalho das equipes de combate. Apesar dos esforços exaustivos, o fogo reacendia rapidamente, gerando novos focos e até focos subterrâneos. A luta contra o incêndio durou quatro dias e contou com a ajuda de mais de 50 voluntários das Brigadas Matutu, dos Garcias, Vale do Cangalha e Vale do Matutu.

Manno França, coordenador e fundador da Brigada Matutu e presidente da Fundação Matutu, comentou sobre a importância desse trabalho:

“A Brigada Voluntária de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do Matutu é uma das primeiras brigadas voluntárias do Brasil. Criada em 1993 a partir do esforço de moradores do Vale do Matutu, foi formalizada em 1995 com a instituição da Fundação Matutu. Atualmente, contamos com 42 voluntários.”

Em 31 anos de atuação, a Brigada Matutu já combateu e controlou mais de 400 focos de incêndio, evitando a perda de dezenas de milhares de hectares de vegetação nativa e impedindo que o fogo atingisse residências em bairros rurais.

 “Por meio da mobilização comunitária e de projetos e parcerias, já treinamos mais de 500 brigadistas e mais de 1.200 voluntários em diversas localidades da Serra da Mantiqueira”, acrescenta Manno.

Área de atuação

A atuação prioritária da Brigada é o Vale do Matutu e suas áreas de entorno, com ênfase no Parque Estadual da Serra do Papagaio e na Reserva Matutu. Em situações específicas, a Brigada já participou de combates a incêndios em outras localidades e Unidades de Conservação, como no Parque Nacional do Itatiaia.

Prejuízos das Queimadas ao Bioma Local

Manno enfatiza que as queimadas ilegais se transformam em incêndios florestais, gerando prejuízos enormes à fauna, flora, propriedades, saúde e à vida das pessoas. “Provocar incêndio é crime”, alerta. Os impactos no meio ambiente incluem a destruição da vegetação nativa, que serve de habitat para várias espécies da fauna silvestre, além de proteger os mananciais de água que abastecem a região.

Restauração do Ambiente Afetado

A restauração ocorre de forma natural ao longo dos anos, desde que a área seja protegida de novos incêndios. Quando necessário, áreas atingidas podem ser enriquecidas com espécies da flora local.

“A Brigada Matutu já plantou mais de 200 mil árvores nativas em nossa área de atuação”, destaca Manno.

Para aqueles que desejam reflorestar áreas afetadas pelo fogo, o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais é uma boa referência.

Extensão do Território Queimado

Nos três incêndios recentes na área de atuação prioritária, a estimativa é que a área total queimada foi de 580 hectares, quase toda localizada no Parque Estadual da Serra do Papagaio. Nos outros incêndios ocorridos em setembro, a área total queimada ultrapassa 1.200 hectares.

“Estamos aguardando um relatório mais detalhado sobre essas ocorrências, que será elaborado pela equipe do IEF-MG”, conclui Manno.

O trabalho dos brigadistas, como os da Brigada Matutu, é vital para a proteção do meio ambiente e das comunidades locais, mostrando que a união e o comprometimento são essenciais na luta contra os incêndios florestais.

Consequências dos Incêndios Florestais

Os incêndios florestais têm diversas consequências, que podem ser classificadas em impactos ambientais, sociais e econômicos. Aqui estão algumas das principais consequências:

Impactos Ambientais

Os incêndios florestais representam uma das mais sérias ameaças ao meio ambiente, causando impactos que afetam ecossistemas, biodiversidade e a qualidade de vida humana. Esses eventos, muitas vezes exacerbados por práticas de manejo inadequadas e mudanças climáticas, resultam em consequências que vão muito além da perda imediata de vegetação. Um dos efeitos mais devastadores é a destruição de habitats naturais, levando à perda de biodiversidade. Muitas espécies, especialmente aquelas já ameaçadas, podem não sobreviver à devastação, resultando em extinções locais ou até globais.

A vegetação desempenha um papel crucial na estabilidade do solo. Quando as plantas são queimadas, a estrutura do solo se torna vulnerável à erosão, destruindo a camada fértil vital para a agricultura e aumentando o risco de deslizamentos de terra, especialmente em áreas montanhosas. Com o solo exposto, as chuvas podem levar à perda significativa de nutrientes e à sedimentação de cursos d’água. Além disso, os incêndios florestais impactam negativamente os recursos hídricos; a cinza e os poluentes gerados pela queima podem contaminar rios, lagos e lençóis freáticos, comprometendo a qualidade da água potável e afetando a fauna aquática.

A fumaça gerada também libera poluentes no ar, incluindo dióxido de carbono, monóxido de carbono e partículas finas. Os incêndios florestais não apenas são uma consequência das mudanças climáticas, mas também contribuem para seu agravamento, amplificando o aquecimento global.

Problemas de Saúde

Os incêndios florestais têm consequências diretas e indiretas na saúde humana. As substâncias liberadas podem penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, causando uma série de problemas de saúde. A médica Irlaine Cunha Pereira explica que a exposição à fumaça dos incêndios pode agravar doenças respiratórias existentes, como bronquite. Até pessoas saudáveis podem apresentar tosse, rinite, sinusite e epistaxe. Ela recomenda o uso de umidificadores ou a colocação de uma vasilha de água ao lado da cama na hora de dormir para aliviar os sintomas. Para pessoas mais vulneráveis, o uso de máscara é aconselhado.

Impactos no Turismo

Para o turismólogo Marcos Carvalho Oliveira, se partirmos do princípio de que o turismo é uma atividade que envolve muitos fatores, internos e externos, também envolve muitos profissionais de diversas áreas. Fatores externos, como o meio ambiente, o clima da região e o bioma, entre outros, têm influência na atividade. Atualmente, estamos passando por uma época de aquecimento global, industrialização e capitalismo; tudo isso interfere no meio ambiente e, consequentemente, na atividade turística. As queimadas são fatores que influenciam a queda do percentual de visitas a um local específico, pois transformam a paisagem e a qualidade do ar que respiramos, espalhando fuligem e calor.

O meio ambiente, sob influência das queimadas, leva à evasão dos animais, à morte da flora e o solo fica infértil. Tudo isso transforma a paisagem e a interação do turista com o meio ambiente. Os profissionais e as empresas turísticas sofrem com a baixa demanda. O trabalho a ser feito é um trabalho de união, tanto do turista quanto dos profissionais que promovem a atividade, a comunidade local; tudo precisa ser repensado e trabalhado de uma melhor forma.

“Alguns locais já estão nadando na contramão do capitalismo e do quantitativo, visando mais a qualidade. Esse é um turismo para daqui a 5 anos, 10 anos: um turismo responsável, tanto do visitante quanto do receptor.”

Denuncie

Se você presenciar um incêndio florestal, é importante agir rapidamente. Aqui estão os passos que você pode seguir para denunciar:

Mantenha a Calma: Tente não entrar em pânico. Avalie a situação antes de agir.

Identifique a Localização: Anote o local exato do incêndio, incluindo pontos de referência, coordenadas se possível, e a extensão do fogo.

Contate as Autoridades

Corpo de Bombeiros: ligue para o número de emergência 193

Polícia Florestal: ligue para o número de emergência 190

Instituto Estadual de Florestas (IEF): informe sobre o incêndio, especialmente se estiver em áreas de proteção ambiental.

Secretaria do Meio Ambiente: se houver, entre em contato com o órgão responsável pelo meio ambiente na sua região.

Utilize Aplicativos e Redes Sociais: algumas regiões possuem aplicativos específicos para denúncias de incêndios florestais. Além disso, você pode informar sobre o incêndio nas redes sociais para alertar mais pessoas.

Evite se Aproximar do Fogo: sua segurança é prioridade. Não tente combater o incêndio sozinho, especialmente se ele for grande.

Siga as Orientações das Autoridades: após a denúncia, siga as orientações dadas pelos profissionais que chegam ao local.

Lembre-se: denunciar incêndios florestais é fundamental para proteger a fauna, a flora e a segurança das pessoas.

Por Graziela Matoso

Fotos: Arquivos pessoais

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