Uma doença milenar, que surgiu há pelo menos 70 mil anos, já tendo sido encontrada em esqueletos de múmias do antigo Egito e do Peru. Essa é a tuberculose que, apesar de bastante conhecida, ainda causa muitas dúvidas na população em geral e até mesmo em alguns profissionais de saúde, que deixam de investigá-la por acreditarem ser uma doença erradicada.
A tuberculose tem cura e, ao longo da história, já foi tratada de diversas formas. Mas foi só em 1943 que seu tratamento começou a ser feito de forma mais efetiva, com a descoberta do antibiótico estreptomicina. O Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (Lacen-MG), que faz parte da Fundação Ezequiel Dias (Funed), é o laboratório de referência estadual para o diagnóstico da tuberculose e realiza exames de média e alta complexidade.
Além disso, a equipe coordena a Rede Laboratorial da Tuberculose em Minas Gerais, atuando na capacitação de profissionais envolvidos no diagnóstico, na supervisão técnica em laboratórios da rede, e como membro do Comitê Estadual para Combate à Tuberculose, em conjunto com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
Diagnóstico da tuberculose
A referência técnica do Laboratório de Micobacterioses da Funed, Élida Aparecida Leal, conta que a porta de entrada de um paciente com suspeita de tuberculose pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é a Unidade Básica de Saúde ou posto de saúde, como é popularmente conhecida. Lá será feito o acolhimento do paciente, a consulta e a solicitação dos exames iniciais, tanto de imagem quanto laboratoriais.
A avaliação clínica é essencial para o diagnóstico da tuberculose. Além dessa avaliação, são solicitados exames laboratoriais, seja para os laboratórios do próprio município, seja para o laboratório da Funed. A radiografia do tórax é também um método indicado para o diagnóstico da doença.
Veja a diferença entre os exames laboratoriais e os responsáveis por oferecer os mesmos:
Baciloscopia: exame microscópico do escarro (catarro), que permite identificar o paciente com tuberculose. Apesar de ser um exame de baixo custo e fácil execução, realizado por laboratórios municipais de menor porte, a baciloscopia apresenta a desvantagem de ser pouco sensível, ou seja, são grandes as chances do resultado ser liberado como negativo e o paciente ter tuberculose. Apresenta como vantagem a rápida liberação do laudo, que acontece em até dois dias após a entrada da amostra no laboratório.
Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB): realizado em diversos tipos de materiais biológicos, dentre eles o escarro. É um exame altamente sensível, superior à baciloscopia. Oferecido pelo município de Belo Horizonte, pelos laboratórios macrorregionais e por outras unidades e hospitais de referência distribuídos em diversos municípios do estado. Também possibilita uma resposta rápida, em no máximo dois dias.
Cultura: Exame padrão-ouro, confirma o diagnóstico na medida em que possibilita o isolamento da bactéria e a posterior identificação da espécie. Exame de média complexidade, oferecido pela Funed e por outros laboratórios da rede estadual. Como é necessário aguardar o crescimento da bactéria, o exame requer, no mínimo, 45 a 60 dias para ser liberado, a depender da qualidade da amostra coletada.
Teste de sensibilidade aos fármacos: em Minas Gerais é realizado exclusivamente pela Funed, pois a instituição é a única do estado que possui a estrutura de biossegurança necessária para o manuseio da bactéria. A partir da cultura da amostra (escarro ou qualquer outro material biológico), é possível isolar a bactéria que infecta o paciente. Essa bactéria é então testada, ou seja, é colocada em contato com os medicamentos que o paciente está recebendo no tratamento, a fim de se verificar se esses são efetivos na eliminação da bactéria.
“A importância do teste de sensibilidade, exame que também identifica a tuberculose resistente, é fornecer informações ao médico quanto à resposta do paciente aos medicamentos que estão sendo administrados. Se for verificado que a resposta clínica do paciente não está sendo satisfatória, ou seja, se os sintomas não têm melhorado e se o teste de sensibilidade evidenciar resistência a algum dos antibióticos, o médico pode alterar o esquema de tratamento, introduzindo novos medicamentos ou estendendo o tratamento por um tempo maior que seis meses, visando à cura desse paciente”, ressalta Élida Leal.
A referência técnica do Laboratório de Micobacterioses da Funed esclarece ainda que o teste tuberculínico, ou PPD, não é utilizado para o diagnóstico de tuberculose e sim para identificação do indivíduo com a infecção latente, ou seja, aquela pessoa que teve contato com algum doente, se infectou com a bactéria, mas não desenvolveu a doença. “É importante reforçar que o indivíduo com a infecção latente não está doente, não tem sintomas e não transmite a tuberculose. Contudo, pode vir a manifestar a doença em decorrência de alguma condição clínica ou tratamento que cause queda da imunidade”, explica Élida.
Por esse motivo, os médicos podem, por exemplo, solicitar o PPD antes de o paciente iniciar um tratamento com corticóide, quimioterapia ou radioterapia. “Essa conduta tem como objetivo avaliar se o indivíduo tem a infecção e pode manifestar a tuberculose. A Organização Mundial de Saúde estima que um quarto da população mundial esteja nessa condição de infecção latente”, ressalta Élida Leal. Vale frisar, ainda, que o PPD não é realizado pela Funed, e sim pelo município.
Formas de transmissão
A forma de transmissão é única e exclusivamente direta, de pessoa para pessoa. Assim, um paciente doente, por meio da tosse, espirro ou até mesmo pela fala, pode contaminar outra pessoa. “Qualquer que seja a forma da tuberculose (pulmonar, pleural, renal ou óssea), a porta de entrada é sempre pela via aérea. A bactéria entra pelo nariz e se instala no pulmão, que é o único órgão que possui as condições biológicas necessárias para a bactéria se adaptar e multiplicar. Por ser um órgão altamente irrigado (grande fluxo sanguíneo), a bactéria pode cair na corrente sanguínea e atingir qualquer outra parte do corpo”, conta Élida.
A tuberculose não se transmite por vetores, como moscas ou mosquitos. Alguns dos sintomas são: tosse prolongada, entre duas e três semanas, com ou sem catarro, cansaço, emagrecimento, febre e suor noturno. Caso suspeite da doença, procure atendimento em uma unidade de saúde mais próxima.
Fonte: Fundação Ezequiel Dias
Foto: Fiocruz