Numa sociedade onde o consumo está cada vez mais acelerado, a coleta seletiva, uma legislação adequada e a conscientização de toda a sociedade são fundamentais para avançar na reciclagem do lixo.
A situação é grave, pois afinal o Brasil produz 90 milhões de toneladas de lixo por ano, mas recicla apenas 4% dos resíduos, muito abaixo dos índices de países europeus e asiáticos, por exemplo.
-“ Mais de 41% do lixo produzido no Brasil sequer é coletado, agravando problemas ambientais e de saúde pública. Dos resíduos recolhidos, apenas 13,8% têm destinação correta em aterros sanitários. Além disso, o Brasil ainda possui cerca de 3 mil lixões ativos, apesar das metas repetidamente adiadas para sua substituição. A previsão atual é que todos sejam desativados até 2029-“ afirmou Laerte Scanavacca Júnior, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.
Este descarte inadequado gera custos elevados: estima-se que o Brasil perca R$ 120 bilhões anuais devido à reciclagem ineficiente ou inexistente. Especialistas apontam que a infraestrutura precária e a bitributação sobre materiais recicláveis são barreiras para avançar na economia circular, modelo que promove o reaproveitamento de recursos e reduz o impacto ambiental.
A reciclagem no país varia conforme o material. O alumínio lidera com uma taxa de reaproveitamento de 98,7%, enquanto vidro (25,8%), plástico (24,5%) e lixo eletrônico (apenas 3%) ainda apresentam desafios. O Brasil é o quinto maior produtor mundial de lixo eletrônico, com 100 mil toneladas geradas anualmente, mas 85% dos brasileiros ainda guardam esse tipo de resíduo em casa, dificultando a destinação adequada.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10) estabelece diretrizes para a gestão do lixo, mas sua implementação encontra desafios. Para evitar um colapso ambiental e social, especialistas defendem maior investimento em coleta seletiva, incentivo à reciclagem e educação ambiental. A compostagem do lixo orgânico, por exemplo, poderia reduzir em até 50% o volume de resíduos descartados e prolongar a vida útil dos aterros sanitários.
Outro ponto crítico é a contaminação ambiental por metais pesados, como mercúrio, cádmio e chumbo, encontrados em pilhas, baterias, lâmpadas e eletrônicos. Esses elementos tóxicos podem causar doenças graves e já afetaram comunidades no Brasil, como ocorreu em 2019 com indígenas impactados pelo garimpo ilegal.
O setor de construção civil também é um grande gerador de desperdício, com até 30% dos materiais utilizados sendo descartados. Esse volume poderia ser reaproveitado, reduzindo custos e impactos ambientais.
Apesar dos desafios, o Brasil tem potencial para avançar na reciclagem e na economia circular. Medidas como ampliação da coleta seletiva, incentivos fiscais para materiais recicláveis e conscientização da população podem transformar o setor e reduzir os impactos ambientais. Sem essas ações, o problema do lixo continuará crescendo, comprometendo a qualidade de vida e o futuro das próximas gerações.
Com informações da Agência Brasil e Embrapa