A partir de 1º de janeiro de 2025, o Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do Brics, o bloco econômico formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O Brasil assume a liderança em um momento crucial, com o bloco em plena expansão. Em 2025, nove novos países ingressam no grupo, ampliando a sua representatividade e relevância no cenário internacional. O novo governo brasileiro tem o desafio de coordenar a dinâmica do Brics expandido, promovendo uma governança global mais inclusiva e sustentável, com foco em questões como desenvolvimento social e econômico e a reforma das instituições globais.
Expansão do Brics e novos membros
A expansão do Brics é um dos temas centrais para o bloco em 2025. Ao longo de 2024, o Brics anunciou a adesão de nove novos membros, incluindo Cuba, Bolívia, Indonésia, Bielorrússia, Cazaquistão, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Este movimento foi confirmado pela Rússia, que presidiu o bloco em 2024. Até 2026, mais países, como Nigéria, Turquia, Argélia e Indonésia, devem também se juntar ao grupo, o que demonstra a crescente influência do Brics na política e economia globais.
Além dos membros plenos, o Brics criou uma nova categoria de parceiros, o que permite a outros países não membros participarem das reuniões sem direito a voto. No total, 13 países foram convidados a integrar o bloco. A inclusão de novos membros ocorre em um momento de tensão nas relações internacionais, especialmente com a dominância do dólar e as ameaças comerciais do governo dos Estados Unidos, o que tem levado muitos países a buscar alternativas ao sistema financeiro ocidental.
Desafios da presidência brasileira
O professor de direito internacional, Paulo Borba Casella, da USP, aponta que o Brasil terá desafios complexos ao liderar o bloco em 2025, especialmente no que se refere à organização interna do Brics expandido. Com dez países membros plenos e vários estados associados, será necessário estabelecer uma nova dinâmica de funcionamento para garantir que as decisões do bloco sejam tomadas de forma eficiente e consensual. Ele destaca a existência de centenas de grupos de trabalho em diversas áreas, o que exige uma coordenação eficiente.
Além disso, o Brasil também terá a tarefa de avançar nas iniciativas já em andamento, como o uso de moedas locais no comércio entre os países do Brics, uma medida que visa reduzir a dependência do dólar. A construção de um sistema de pagamento alternativo, baseado em moedas locais, é um dos principais objetivos do bloco, o que coloca o Brasil na linha de frente dessas discussões. Este projeto busca fortalecer a cooperação sul-global, criando alternativas ao sistema financeiro dominado por potências ocidentais.
Reforma da governança global
Um dos pilares da presidência brasileira do Brics será a reforma da governança global. O bloco busca maior representatividade para países da Ásia, África e América Latina em instituições como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. As demandas do Brics incluem a expansão do Conselho de Segurança da ONU para refletir melhor a realidade geopolítica global e a reforma das regras do comércio internacional, com mais espaço para os países do Sul Global.
A professora Maria Elena Rodríguez, coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC-Rio, observou que o Brasil teve um papel mais discreto na presidência do bloco durante o governo Bolsonaro. Ela destaca que, agora, o bloco está mais consolidado, e o país deve assumir um papel de liderança na busca de avanços concretos, especialmente nas negociações sobre o uso de moedas locais. Para ela, é essencial que o Brasil aproveite a presidência para fortalecer sua posição dentro do Brics e promover a inclusão do continente latino-americano nas discussões globais.
Reações à iniciativa de substituição do dólar
Uma das iniciativas mais ambiciosas do Brics tem sido a tentativa de substituir o dólar por moedas locais no comércio entre os países do bloco. O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu a essa movimentação com ameaças de aumentar a taxação sobre produtos de países que adotarem essa prática. No entanto, o professor Paulo Borba Casella argumenta que Trump não tem condições de impor tarifas a todos os países do Brics sem prejudicar a economia americana. Para ele, as ameaças de Trump refletem um estilo de diplomacia unilateral e mesquinho, que contrasta com a postura mais colaborativa e inclusiva do Brics.
O Brics como alternativa ao sistema internacional
O Brics tem se consolidado como uma plataforma para os países emergentes e em desenvolvimento que buscam maior autonomia frente ao sistema internacional liderado pelos Estados Unidos. Com uma população de mais de 40% do total mundial e 37% do PIB global, o Brics supera o G7, o grupo das economias mais industrializadas, em termos de peso econômico. Isso coloca o bloco em uma posição estratégica para propor alternativas ao modelo financeiro e comercial dominado pelo Ocidente.
Além disso, o Brics tem sido um importante defensor da multipolaridade, questionando a hegemonia dos EUA e das instituições financeiras ocidentais. A reforma das instituições financeiras globais e a promoção de um desenvolvimento sustentável e inclusivo são alguns dos pilares que o bloco buscará reforçar em 2025, especialmente sob a liderança do Brasil.
Com as informações da Agência Brasil
Foto: Brics / Divulgação