O Cerrado brasileiro, conhecido como “berço das águas”, está no centro de um alerta ambiental. Neste domingo, 13 de abril de 2025, Dia do Beijo, o biólogo e fotógrafo da natureza Marcelo Kuhlmann lançou luz sobre a ameaça crescente aos beija-flores da região. Após uma década de expedições pelo bioma, o pesquisador registrou 41 das 89 espécies de beija-flores presentes no Brasil, trabalho que resultou no livro Cerrado em Cores: Flores Atrativas para Beija-Flores, com 750 páginas, publicado de forma independente pela Biom Field Guides com financiamento coletivo.
A obra, organizada por cores e períodos de floração das flores, busca destacar a diversidade vegetal que atrai os beija-flores e a necessidade urgente de conservação. Kuhlmann alerta que o desmatamento causado pelo agronegócio e as mudanças climáticas colocam em risco a polinização natural do Cerrado. “Passo horas por monoculturas de soja e milho, sem nenhum fragmento nativo. Já perdemos mais da metade da vegetação original”, declarou. Além disso, destacou que as alterações no clima podem afetar o sincronismo entre as épocas de floração e os hábitos alimentares dessas aves.
Segundo o pesquisador, beija-flores são essenciais à polinização de até 90% das espécies vegetais do Cerrado, atuando ao lado de abelhas, mariposas, borboletas e morcegos. No livro, ele catalogou mais de 300 flores nativas atrativas às aves, sendo que pelo menos 100 delas dependem diretamente dos beija-flores para se reproduzirem. Ele explica que o formato do bico dessas aves evoluiu junto às flores, criando uma relação de coevolução. Kuhlmann também registrou espécies raras como o Phaethornis nattereri na Chapada dos Guimarães. “É preciso conhecer para conservar. O Cerrado não é cinza, é colorido. Mas precisa de atenção urgente para não se tornar um deserto ecológico”, afirmou.
A publicação busca chamar atenção para a importância da biodiversidade nativa e para o risco iminente de desequilíbrio ambiental no Cerrado. Marcelo Kuhlmann percorreu regiões do Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Mato Grosso e Tocantins, e conclui que a preservação dos beija-flores e de toda a flora depende de políticas sustentáveis e de um olhar mais atento da sociedade. O Cerrado, mesmo não sendo mais o oásis descrito por Guimarães Rosa em 1956, ainda pulsa vida, desde que os “beijos” entre ave e flor continuem a acontecer.
Por Eduardo Souza
Com informações: Agência Brasil
Foto: Marcelo Kuhlmann