Queimadas no Brasil, agravadas pela ação humana, e problemas globais que aceleram as mudanças do clima serão temas do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Climática e Ambiental do G20
As queimadas têm se tornado uma questão ambiental crítica, com impactos severos no meio ambiente, na economia e na saúde pública. Nos últimos anos, a intensificação das queimadas gerou preocupação global, dado que a Floresta Amazônica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo, e essencial para a regulação do clima global.
Do ponto de vista ambiental, os prejuízos são enormes. A destruição de biomas como a Amazônia resulta na perda de biodiversidade e compromete os serviços ecossistêmicos, como a purificação do ar e a regulação do ciclo da água. A Amazônia, conhecida como “pulmão do mundo”, tem um papel vital na absorção de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases do efeito estufa. A destruição dessas florestas agrava o aquecimento global.
Já do ponto de vista econômico, os prejuízos incluem questões como a perda de recursos florestais, danos à agricultura local e regional e altos custos com combate aos incêndios. Também há implicações na saúde pública, onde a inalação de fumaça causa doenças respiratórias, colocando pressão sobre os sistemas de saúde locais.
De 1º de janeiro a 22 de setembro de 2024, foram queimados cerca de 11 milhões de hectares na Amazônia, o que representa 2,8% do bioma. Diante da gravidade dos incêndios florestais no Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mobilizam 3,5 mil profissionais que trabalham nos biomas da Amazônia, Cerrado e Pantanal. A operação tem o apoio de 15 aviões, 14 helicópteros, viaturas e embarcações para o combate às chamas.
As brigadas do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama, realizam ações preventivas, orientam sobre queimas controladas e promovem atividades educativas nas comunidades e escolas locais. Peritos do Prevfogo apontam que a origem dos incêndios é criminosa. As investigações para identificar e punir os responsáveis estão a cargo do Ibama, em parceria com as polícias civis estaduais. A Polícia Federal já abriu 96 inquéritos para investigar os incêndios que se alastraram pelo Brasil. As apurações indicam que a maioria das queimadas foi provocada de forma intencional, com fortes indícios de ligação a crimes como grilagem de terras, exploração ilegal de áreas públicas e até motivações políticas.
A presidência do Brasil colocou as mudanças do clima como um dos principais temas do G20, como explica André Aquino, coordenador do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Climática e Ambiental, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. “O tema das mudanças climáticas está no centro da atenção do G20, não só no grupo de Sustentabilidade Climática. Também criamos a Força-tarefa para Mobilização Global contra a Mudança do Clima, que promove o diálogo entre governos, instituições financeiras e organismos internacionais. Os eventos climáticos extremos de 2024 revelam a urgência de uma ação coletiva”, explica.
Aquino conta que o objetivo do trabalho é aumentar o financiamento disponível, facilitar o acesso aos recursos e garantir que esse dinheiro chegue aos países mais vulneráveis, como algumas nações da África, América Central e Sudeste Asiático. “A situação está cada vez mais alarmante. Precisamos aumentar nossa capacidade de adaptação. Propomos um fundo global para incentivar as nações tropicais a manter suas florestas e controlar incêndios por meio de pagamentos”, enfatiza.
O coordenador comenta sobre a preparação do novo Plano Clima, que definirá ações para que o Brasil reduza suas emissões de gases de efeito estufa e se adapte aos impactos da mudança do clima. “Estamos preparando um plano que tem sido discutido com a sociedade, e estamos aprendendo com outros países que também enfrentam incêndios recorrentes, como a África do Sul, os Estados Unidos e o Canadá”, pontua.
Monitoramento contínuo e desafios climáticos
Ana Paula Cunha, pesquisadora de secas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), relata que o período entre 2023 e 2024 registrou a seca mais intensa e extensa desde que o órgão começou a monitorar esses eventos. “Fizemos análises baseadas em dois conjuntos de dados, um que começa na década de 1950 e outro na década de 1980. Ambos confirmaram que a seca de 2023/2024 é a mais severa já registrada na história recente”, detalha.
A pesquisadora observa que as secas não são apenas fenômenos locais, mas têm impactos transfronteiriços. “Se olharmos para o mapa da seca na América do Sul, vemos que países vizinhos, como Paraguai e Bolívia, também estão enfrentando crises hídricas. Os rios ultrapassam fronteiras, e quando uma seca atinge a cabeceira de um rio em outro país, nós também somos impactados”, afirma.
Ana Paula observa ainda, que os efeitos dessas secas e queimadas afetam desde a produção de energia até a agricultura e o transporte de grãos. Além disso, ela reitera que as queimadas têm um impacto direto na saúde humana. “Hoje, muitas regiões do Brasil estão enfrentando mais de 100 dias sem chuva, o que faz com que a fumaça das queimadas permaneça suspensa no ar, agravando problemas respiratórios, o que é muito preocupante”, alerta.
Aumento expressivo de queimadas
O estado de São Paulo viveu em agosto de 2024 um dos períodos mais críticos em relação às queimadas, conforme dados apresentados por Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Desde o início do ano até o dia 26 de agosto, houve um aumento expressivo na quantidade de queimadas em relação ao mesmo período do ano anterior”, informa.
De acordo com o levantamento, foram registrados 5.281 focos de incêndio até o final de agosto, o que representou um crescimento de 378% em comparação com os 1.104 focos do ano anterior. O INPE monitora as queimadas por meio de satélite desde 1998, o que possibilita a comparação sazonal dos focos de incêndio ao longo dos anos. Em agosto, imagens de satélite captaram o auge da crise, com várias frentes de fogo visíveis em diferentes regiões de São Paulo e do país. O INPE segue monitorando a situação e reforça a importância da conscientização para minimizar os impactos das queimadas.
Panorama mundial dos problemas climáticos extremos
No cenário global, a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global resultam em fenômenos meteorológicos mais severos e devastadores, atingindo todas as regiões do planeta de diferentes maneiras. As ondas de calor são um dos problemas mais recorrentes. Países da Europa, Estados Unidos e da Ásia têm enfrentado temperaturas recordes, que causaram milhares de mortes, colapso de infraestruturas e secas prolongadas, que afetam principalmente a produção agrícola e o abastecimento de água.
Além disso, o aumento no nível do mar, causado pelo derretimento das geleiras e o aquecimento dos oceanos, ameaça diretamente nações insulares e zonas costeiras densamente povoadas, como Bangladesh e partes do sudeste dos EUA. A crise do clima também está relacionada à insegurança alimentar. Com secas prolongadas na África, e padrões de chuva alterados em várias partes do mundo, a produção de alimentos está em risco, o que pode levar a crises humanitárias e migrações em massa.
A ação global coordenada é cada vez mais urgente para mitigar esses efeitos e evitar que os impactos climáticos se tornem irreversíveis. Os assuntos que envolvem os problemas do clima estarão em debate entre os dias 1 e 3 de outubro, no Rio de Janeiro, quando serão realizadas reuniões técnicas e ministerial do Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Climática e Ambiental do G20.
Fonte: Agência Gov
Foto: Vinícius Mendonça/Ibama