Na avaliação da escritora, a literatura é capaz de comunicar com todas as áreas do conhecimento e de humanizar sujeitos. “Talvez seja o discurso que mais revela a identidade da nação. Ele não tem o compromisso de provar nada. Nas frinchas da distração, pode se revelar muitas coisas”
A Semana do MP 2024 recebeu, na tarde da quinta-feira, 9 de setembro, palestra da renomada escritora mineira Conceição Evaristo. Diante de uma plateia lotada e atenta, a autora de “Ponciá Vicêncio”, “Olhos D’água” e “Becos da Memória”, entre outras obras importantes da literatura brasileira, abordou o tema “Discurso literário e a humanização do sujeito”. O evento ocorreu no The One Business, no bairro Luxemburgo, e foi conduzido pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Promoção dos Direitos dos Idosos e das Pessoas com Deficiência (CAO-IPCD), promotora de Justiça Vânia Samira Doro Pereira Pinto.
A palestrante, que integra a Academia Mineira de Letras, começou sua fala destacando a alegria de voltar à cidade onde nasceu e de rever sua família. “A cidade está muito diferente. É uma oportunidade de olhar BH de outro prisma”, observou.
Na sequência, ela falou do desafio de participar de um evento do mundo da justiça e das diferenças deste campo em relação ao espaço das artes. “Estar aqui é um desafio para mim, que vou resolver da literatura, que é a área em que navego bem. Os mundos são bastante diversificados”.
O início da palestra trouxe, ainda, um questionamento: “Qual é o lugar do direito na humanização do sujeito e na construção dele? Falo do sujeito coletivo.”, perguntou a escritora ao público.
Na avaliação de Conceição, a literatura é um espaço de discurso capaz de comunicar com todas as áreas do conhecimento. “Talvez seja o discurso que mais revela a identidade da nação. Ele não tem o compromisso de provar nada. Nas frinchas da distração, pode se revelar muitas coisas”.
A palestrante lembrou que, desde a formação da literatura brasileira, escritores pertencentes às classes sociais privilegiadas foram responsáveis por forjar uma identidade nacional. Segundo ela, ao se observar a construção de personagens negras e indígenas, é possível perceber o reforço de imaginários negativos dessas pessoas ou grupos em posição de subalternidade. “Mas há outros imaginários que criam personagens subalternizados, mas não retiram a humanidade do sujeito”, ressalvou.
Evaristo contou e teceu comentários sobre cenas e personagens de duas de suas obras: “Olhos D’água” e “Becos da Memória”. A partir dessas narrativas, destacou que seus personagens são conhecidos por promotores e promotoras de Justiça na vida real e que, através da ficção, é possível construir a humanização de sujeitos. “Por meio da literatura, busca-se enxergar os personagens para além dos seus delitos. A primeira visão que vai se ter do sujeito, na obra, é de um marginal. Talvez seja mais fácil pensar na humanidade desses sujeitos pela ficção”, avaliou.
Por fim, a escritora ressaltou que a possibilidade de acreditar na humanidade do outro já nasce antes do olhar ou com ele.
Fonte: MPMG
Fotos: Camila Soares/MPMG