A partir de quarta-feira, 4 de setembro, o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB RJ) abre suas portas para a exposição “A.R.L. Vida e Obra”, dedicada ao renomado pintor e fotógrafo Antônio Roseno de Lima, conhecido por transformar lixo em arte. A mostra, que já encantou o público em São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal, permanecerá no Rio de Janeiro até 28 de outubro. Com classificação livre, os visitantes poderão explorar a exposição de quarta-feira a segunda-feira, das 9h às 20h.
A vida e a arte de Roseno
Antônio Roseno de Lima nasceu em Alexandria, no Rio Grande do Norte, em 1926. Em busca de uma vida melhor, deixou sua família e se mudou para São Paulo, onde se estabeleceu em Campinas. Na cidade, ele conheceu e casou-se com Soledade, com quem viveu por 40 anos. Sem formação acadêmica formal em artes, Roseno começou sua trajetória artística de forma autodidata. Sua arte, classificada como “arte bruta” – um termo criado por Jean Dubuffet para descrever a arte não influenciada por estilos convencionais e que frequentemente utiliza materiais não tradicionais –, é marcada pela utilização de materiais reciclados e técnicas inovadoras.
Em Campinas, Roseno começou a fazer um curso de fotografia e rapidamente se dedicou a transformar suas fotos em obras de arte. Usava restos de materiais do cotidiano – como latas e pedaços de madeira – como suportes para suas pinturas. “Ele começou a expressar o cotidiano através da arte, sem nenhuma técnica acadêmica, mas com uma enorme criatividade”, explica Amanda Grispin, produtora da exposição.
Reconhecimento e impacto
O artista plástico Geraldo Porto descobriu Roseno em uma feira de antiguidades em 1988, no Centro de Convivência Cultural de Campinas. Ele ficou impressionado com o uso inovador dos suportes de Roseno, que incluíam não apenas a pintura, mas também informações pessoais e culturais na parte de trás dos quadros. “Roseno assinava suas obras como A.R.L. devido à dificuldade em escrever. Ele valorizava muito o conteúdo que colocava na parte traseira das telas”, detalha Grispin.
Entre as mais de 90 obras exibidas no CCBB RJ, destaca-se a série Presidentes, onde Roseno homenageia personalidades notáveis com o título de presidentes, incluindo Alberto Santos Dumont, o Pai da Aviação. “A frase ‘Eu queria ser um passarinho para conhecer o mundo inteiro’ reflete seu desejo de explorar e entender o mundo além das suas circunstâncias”, acrescenta Grispin.
Exposição e acessibilidade
A exposição é dividida em duas partes principais: a vida e a obra de Roseno. A primeira seção apresenta suas primeiras fotografias, enquanto a segunda exibe sua rica produção artística, incluindo pinturas de bêbados, mulheres, santos, flores e animais. Para facilitar a acessibilidade, a mostra oferece três reproduções em 3D e QR Codes para audiodescrição dos quadros. Além disso, há duas instalações com projeções que mostram imagens do artista e suas obras em movimento.
Legado e reconhecimento
Apesar dos desafios enfrentados e de ser rotulado erroneamente na década de 1990 como tendo distúrbios mentais, Roseno se manteve firme em sua paixão pela arte. Após a sua morte em 1998, sua obra ganhou reconhecimento no Brasil e no exterior, com exposições importantes como a Documenta de Kassel, na Alemanha. A exposição no CCBB RJ é uma oportunidade para revisitar e celebrar o legado de um artista que transformou a arte e a vida cotidiana em uma forma de expressão única e impactante.
Fonte: Agência Brasil
Foto: Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro