O manto sagrado tupinambá, que retornou ao Brasil no início de julho após estar na Dinamarca desde o século XVII, será finalmente recebido pelo seu povo em uma cerimônia marcada para os dias 10 a 12 de setembro. O artefato, que está sob a guarda do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem sido motivo de discussões e tensões entre os indígenas e a instituição.
História e Controvérsia
O manto, uma vestimenta de 1,80 metro de altura confeccionada com penas vermelhas de guará e fibra natural, chegou ao Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet) em 1689 e data provavelmente do século XVII. Para o povo tupinambá, o manto não é apenas um artefato histórico, mas um “ancião” que representa sua conexão com os ancestrais e práticas culturais ancestrais.
A chegada do manto ao Brasil foi marcada por uma controvérsia significativa. Os tupinambás de Olivença, representados pelo Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (Cito), esperavam estar presentes no momento da chegada do artefato ao Brasil, em 11 de julho. No entanto, afirmam que não foram oficialmente informados sobre o evento. A cacique tupinambá Jamopoty expressou a frustração do povo indígena, afirmando que o manto chegou ao Brasil sem o envolvimento deles e que ainda não puderam realizar os rituais espirituais necessários.
Posicionamento do Museu Nacional
O Museu Nacional, por sua vez, afirmou que precisava adotar todos os procedimentos necessários para a conservação do manto antes de apresentá-lo ao público e que notificou o Grupo de Trabalho para o Acolhimento do Manto Tupinambá por e-mail. A cerimônia de recepção dos tupinambás está sendo organizada pelo Ministério dos Povos Indígenas, mas o museu ainda não recebeu todos os detalhes sobre o evento.
Recentemente, houve uma reunião tensa entre o diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, e lideranças tupinambás na aldeia Itapoã. No entanto, o Museu Nacional divulgou uma nota reafirmando que não há conflito com os representantes indígenas e destacando a importância do retorno do manto como uma conquista e oportunidade de união.
Memória e Significado
O manto tupinambá, além de seu valor estético e histórico, representa para os tupinambás uma ligação viva com suas tradições e ancestralidade. A peça é considerada essencial para o resgate da memória e identidade cultural do povo tupinambá, que acredita que o manto possui uma conexão espiritual com seus antecessores.
Na entrevista à Agência Brasil, Jamopoty mencionou a situação crítica dos tupinambás, como a falta de demarcação de terras e invasões de seus territórios. Ela destacou que o manto é uma parte fundamental da história e identidade tupinambá, contrariando a ideia de que o povo indígena estaria extinto.
Fonte e foto: Agência Brasil