A enorme variedade de temas e abordagens do Seminário de Economia Mineira, mais conhecido como Seminário de Diamantina, estará a serviço, neste ano em que o evento chega à sua 20ª edição, do debate movido pelas transformações por que passa o mundo em diversos campos – da geopolítica ao clima, da energia à saúde –, encarados dos pontos de vista da ciência, da filosofia e da cultura, mas também das políticas públicas e do comportamento social.
Promovido há 42 anos pelo Cedeplar, o Centro de Estudos em Desenvolvimento e Planejamento Regional, vinculado à Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, o encontro acontece de 19 a 23 de agosto, na cidade histórica localizada no Vale do Jequitinhonha. Conferências, minicursos e mesas-redondas foram organizados para abrigar diagnósticos e elaboração de cenários em torno do tema Minas Gerais e o Brasil em um mundo em transformações: formação do pensamento crítico para os desafios do mundo contemporâneo.
É esperada a presença de 700 ouvintes, e serão apresentados 150 trabalhos, selecionados entre 400 apresentados à organização. O diretor do Cedeplar, professor Frederico Gonzaga Jayme Jr., informa ainda que cerca de 90% das universidades públicas mineiras têm participantes nas atividades do seminário e que, nos últimos dez anos, o evento foi agregando pesquisadores do exterior – nessa edição, estarão presentes nomes como Gary Dimsky, da Universidade de Leeds (Reino Unido), Magda Fontana da Universidade de Turim (Itália), e Kaniska Goonevardema, da Universidade de Toronto (Canadá). E, claro, participarão pesquisadores de todo o Brasil.
“Nas duas últimas edições (em 2019 e 2022), estiveram em destaque na pauta, respectivamente, os desastres da mineração e a pandemia de covid-19, e dessa vez o seminário é orientado para grandes mudanças em áreas diversas”, afirma Frederico. Ele destaca ainda que os minicursos são direcionados não apenas a estudantes e pesquisadores, mas também a técnicos de órgãos públicos – as formações são dedicadas a temas como saúde, economia, meio ambiente, estatística, ciência cidadã e economia feminista.
Os debates tem como temas gerais economia e demografia; história econômica, do pensamento econômico e demografia histórica; políticas públicas de gênero, raça e inclusão; relações econômicas internacionais e transformações geopolíticas. Nesta 20ª edição, os organizadores reservaram espaço especial para a reflexão sobre como as grandes transformações impactam os cursos da Face – seus métodos, currículos e bibliografias – e como o conhecimento novo é apropriado pelos estudantes e novos profissionais.
Economia e natureza
Um dos encontros que compõem a programação do Seminário de Diamantina colocam em pauta as relações entre economia e natureza. A iniciativa é de estudantes de graduação em Economia, que participam de dois grupos de estudo na Face – um sobre Marx e natureza, outro sobre economia do meio ambiente. Participarão da mesa as professoras Leda Paulani, da USP, especialista em economia política e Marx, entre outros temas, e Claudia Mayorga, da UFMG, que tem se dedicado a questões relacionadas aos desastres das barragens de minério em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
“A ideia é propor reflexão sobre o assunto, que vem ganhando força nas pesquisas em economia, sob pontos de vistas bem diferentes”, afirma o professor Hugo Cerqueira, da Face, que vai mediar a conversa. “É importante incluir Marx nessa discussão. Nos cadernos que contêm anotações do final de sua vida, aparecem leituras e estudos em agronomia e química orgânica, por exemplo. Ele percebe ali que o capitalismo representa uma ruptura com o metabolismo da natureza, trata a natureza assim como trata a força de trabalho, na busca do lucro a todo custo.” Cerqueira ressalta o protagonismo, nessa mesa, dos estudantes da UFMG integrantes do movimento internacional Rethinking Economy, que propõe revisão dos currículos para incluir abordagens teóricas e temáticas não convencionais.
No dia anterior (quinta, 22), os desafios da inclusão social estarão entre as pautas de discussão. Segundo Clara Zanon Brenck, professora vinculada ao Departamento de Economia da Face, a ideia é propor que se comece a pensar a economia de modo mais amplo, incluindo o objetivo de garantir a inclusão social. “É preciso levar o problema da desigualdade para dentro da macroeconomia, cujas preocupações não vão muito além da estabilidade da inflação e da dívida pública”, afirma Clara, que é coordenadora da área de política fiscal do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made), da USP.
Na mesa, Clara Brenck estará com Luiza Machado, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Geiger, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), e Luiza Nassif, da Unicamp e do Made, que coordenará o debate. Luiza Machado pesquisa desigualdade de tributação e gênero e Geiger, os gastos sociais. Clara Brenck afirma que a inclusão social, por meio da promoção de maior equidade e justiça econômica, tem papel importante para se alcançar estabilização da inflação e da dívida. “Inclusão social não implica perder o controle da inflação. Minha participação vai defender que os objetivos são múltiplos e não excludentes. E que as medidas macroeconômicas estão indo no sentido oposto ao da inclusão”, ela anuncia.
Fonte: UFMG
Foto: Arquivo Secretaria de Saúde de Minas Gerais