A região do Serro tem uma tradição secular na produção de queijos Minas Artesanal (QMA), mas seus produtores estão sempre procurando se atualizar para a melhoria da qualidade da iguaria. A Emater-MG, a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (APAQS) e a Prefeitura Municipal do Serro fizeram uma parceria para a compra de 60 kits laboratoriais, que estão sendo distribuídos a produtores de 11 municípios da região.
O kit é composto por vidrarias e reagentes necessários para a realização de análises de acidez de pingo e do leite, além de instrumento para medir volumes e equipamento para aferir umidade e temperatura das salas de maturação. O recurso, oriundo de emendas parlamentares, foi obtido pela Prefeitura do Serro e disponibilizado para a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro (APAQS), que elaborou o projeto com a ajuda da Emater-MG. Os técnicos da empresa estabeleceram as orientações técnicas no processo de compra e terão um papel fundamental de assistência aos produtores beneficiados.
Pingo ideal
De acordo com o extensionista da Rede de Assistência Técnica de Queijos Artesanais, João Paulo Campos, a importância do projeto é o produtor ter um maior controle dos insumos utilizados como o pingo e o coalho, garantindo a assim a qualidade desse modo de fazer tão especial, que foi reconhecido no fim de 2024 como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, pela Unesco.
“Através desses equipamentos, os produtores conseguirão analisar a acidez do leite para ver se ele está apto ou não para a produção do queijo. Também poderão avaliar a acidez do pingo coletado (fermento natural essencial para a produção do QMA) e ver se ele está bom para o uso, além de mensurar a quantidade precisa do coalho para evitar a questão do amargor. Com os kits, eles vão ter um maior controle sobre o processo de produção” explica João Paulo.
Além do Serro, foram selecionados para o projeto produtores de Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Materlândia, Paulistas, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas e Rio Vermelho. Todos os beneficiados vão receber visitas dos técnicos da Emater-MG, que vão ensinar como utilizar os equipamentos e a montar as planilhas de acompanhamento. “Vamos ter um acompanhamento do pessoal da Emater-MG, que já é uma parceira antiga da gente. Acredito que a qualidade deve vir sempre em primeiro lugar numa queijaria e os kits vão nos ajudar a fazer um produto cada vez melhor”, argumenta o produtor Jean Claudio de Siqueira, de Sabinópolis.
Patrimônio mineiro
O Modo de fazer o queijo artesanal da região do Serro foi o primeiro bem registrado como Patrimônio Cultural Imaterial do estado de Minas Gerais, em agosto de 2002. “O queijo Minas Artesanal do Serro tem uma característica distinta dos outros, porque ele tem um modo de produção um pouco diferente de outras regiões. Os produtores não utilizam o tecido para prensar a massa. Ela é prensada direto na forma, deixando um pouco mais de soro na massa e isso pode ter um efeito nas características sensoriais do queijo. Além disso, as características de solo, vegetação, clima e de todo o ecossistema onde o queijo é produzido fazem com que o queijo tenha atributos únicos”, comenta a coordenadora técnica Estadual da Emater-MG, Fernanda Quadros.
Desde 2011, a região tem Indicação Geográfica (IG) para o Queijo Minas Artesanal, emitida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sendo a primeira região produtora no estado a obter o reconhecimento. Além da marca da região, o selo tem um QR Code e um código numérico que garantem a rastreabilidade do produto, permitindo que os consumidores possam identificar a origem do produto.
Os produtores de queijo da região vêm desenvolvendo ainda novas estratégias para aumentar a valorização dos produtos locais, dentre elas o Programa de Qualidade do Queijo Minas Artesanal da Microrregião do Serro, que teve início em 2024. O programa foi montado por uma comissão técnica composta por diversas instituições envolvidas direto e indiretamente na atividade como a Emater-MG, a Cooperativa dos Produtores Rurais do Serro (Cooperserro), o Sindicato dos Produtores Rurais do Serro, a Associação dos Produtores Artesanais de Queijo do Serro, a Technoserve, o Sistema Faemg/Senar e o Sebrae, além de prefeituras locais.
Pesquisa científica
A produção de queijos da região também será tema de estudos da rede Inovaleite, composta por pesquisadores de alguns universidades brasileiras dentre elas, a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estão realizando a pesquisa intitulada “Queijo Minas Artesanal (QMA) do Serro: definição da assinatura de microrganismos e composição, perfil e mitigação de riscos sanitários”.
“Eles fizeram as pesquisas, no ano passado, nas regiões Araxá e Canastra, com apoio da Emater-MG. A empresa mobilizou os produtores e participou da coleta de materiais. No Serro, eles vão ampliar a pesquisa, analisando além dos insumos também a questão da sanidade do rebanho”, explica a coordenadora técnica Estadual da Emater-MG.
Fonte e foto: Emater-MG