Um estudo desenvolvido pelo Instituto Gonzalo Muniz, braço da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia, revela que as políticas públicas atualmente em vigor no Brasil não são suficientes para que o país alcance as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a eliminação da tuberculose. De acordo com a pesquisa, que analisa dados sobre a doença de 2018 a 2023, o Brasil está, na verdade, indo na direção oposta à desejada, com uma tendência de aumento na incidência de casos de tuberculose.
A pesquisa, publicada na última edição da The Lancet Regional Health – Americas, revela números alarmantes sobre a tuberculose no Brasil. Em 2023, o país registrou uma taxa de 39,8 casos por 100 mil habitantes, número que, de acordo com as projeções do estudo, deverá aumentar para 42,1 casos por 100 mil habitantes até 2030. Esses números contrastam drasticamente com a meta da OMS, que busca reduzir a incidência de tuberculose em 50% até 2025 e em 80% até 2030, com base nos dados de 2015. Se o Brasil estivesse no caminho ideal, deveria ter atingido em 2023 a marca de apenas 6,7 casos por 100 mil habitantes.
Os pesquisadores destacam que, embora as políticas públicas brasileiras não sejam questionadas em sua importância, há uma clara necessidade de implementar estratégias integradas para alcançar as metas da OMS. O estudo aponta que fatores como o acesso limitado aos serviços de saúde, a não adesão ao tratamento por parte dos pacientes e a falta de recursos para inovações no controle da tuberculose na última década têm sido obstáculos significativos no enfrentamento da doença. Além disso, a pandemia de Covid-19 impactou negativamente os serviços de saúde voltados ao controle da tuberculose, agravando ainda mais a situação.
Uma das principais recomendações do estudo é aumentar a cobertura de terapia diretamente observada (DOT), melhorar a adesão ao tratamento preventivo (TPT) e intensificar a investigação de contatos, com especial atenção às populações vulneráveis. Segundo os dados, se essas estratégias fossem implementadas com eficácia, a incidência de tuberculose poderia ser reduzida para 18,5 casos por 100 mil habitantes até 2030, ainda assim acima das metas da OMS, mas representando uma significativa redução de 56,1% na incidência projetada para o país.
Os pesquisadores também chamam atenção para a importância de aprimorar o controle da tuberculose em ambientes prisionais, onde a doença tem uma alta taxa de incidência devido à superlotação e à falta de acesso adequado a cuidados de saúde. Melhorias na triagem e no acesso ao tratamento preventivo (TPT) nessas instituições são essenciais para reduzir a propagação da doença.
Outro ponto destacado é a necessidade de melhorar a gestão de casos de coinfecção, especialmente entre pessoas com HIV e diabetes, doenças que aumentam a vulnerabilidade à tuberculose. A ampliação de testes e o início precoce do tratamento para essas condições são essenciais para melhorar o prognóstico dos pacientes e evitar a disseminação da doença.
Com as informações da Agência Brasil
Foto: Eduardo Gomes – ILMD / Fiocruz Amazônia