Há quase cinco meses, em 19 de fevereiro de 2024, a Marinha do Brasil (MB) iniciou um novo capítulo em sua história ao receber a primeira turma mista do Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN). Na tarde desta sexta-feira (05), em cerimônia realizada no Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA), no Rio de Janeiro (RJ), 660 jovens comemoraram a conclusão do curso de 19 semanas, incluindo as 114 primeiras mulheres Soldados Fuzileiros Navais.
O evento celebrou não apenas a formação dos novos Combatentes Anfíbios, mas também a concretização da presença de mulheres em todos os Corpos e Quadros da Força Naval. A data representa um marco na inclusão e na igualdade de oportunidades dentro das Forças Armadas brasileiras.
Além do Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, a cerimônia contou com a presença do Ministro de Estado da Defesa, José Mucio Monteiro, do Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, além de autoridades civis, militares e dos poderes Legislativo e Judiciário.
Durante o seu discurso, o Ministro da Defesa agradeceu às famílias por emprestarem seus filhos ao País. “Através da Marinha, vão aprender a defendê-lo. O dia de hoje representa uma grande conquista pessoal, construída à base de muito esforço, abdicação, sacrifício e empenho para superar os mais diversos desafios existentes nessa jornada. O mérito dessa vitória pertence a cada um de vocês”, frisou.
O Comandante da Marinha dirigiu-se aos formandos e destacou a importância deste marco para a Marinha. “Esta cerimônia consagra, substancialmente, a transição a vibrantes guerreiros e guerreiras, defensores da integridade da Pátria brasileira. Digna de reconhecimento, a formação de 114 combatentes anfíbias personifica o vigor e a capacidade intrínsecos à mulher para desempenhar com excelência as vicissitudes inerentes ao cotidiano militar. Feito inédito (…) ratifica sobretudo o princípio de que o mérito e, somente o mérito, é critério inconteste para ocupação de posições de relevância e responsabilidade na instituição”.
Ao entender as diferenças e em busca do melhor aproveitamento das habilidades individuais, a MB realizou diversas adaptações para a inclusão feminina, como a alteração de uniformes, coletes e até de armamentos, além de alterações no dia-a-dia, como a implementação do reconhecimento facial em alojamentos. Coletes balísticos, coldres e painéis de perna foram adaptados para evitar lesões.
Letícia Cristina Alves, segunda colocada geral no Curso, disse estar honrada em servir à Pátria e integrar a primeira turma de combatentes femininas. “É um orgulho gigantesco representar todas as 114 meninas que conseguiram se formar aqui”. Para os pais dela, Cristine de Souza Alves e Dailson Alves, o mais difícil foi a distância. “Ela ficou esse tempo todo longe de casa, mas a gente sempre acreditou. Mesmo sendo difícil para os pais, a gente faz um esforço, porque é o sonho da nossa filha e o sonho dela é o nosso. E hoje, estamos vivendo o sonho: a formação dela”.
O Curso
Foram quatro meses de intenso treinamento militar. O Curso exige alta resistência física e mental e os alunos enfrentaram uma rotina intensa de atividades letivas e físicas.
Durante o curso, além do aprendizado teórico em disciplinas como “Instrução Básica de Combate“, “Armamento e Tiro“ e “Operações“, os então Aprendizes-Fuzileiros Navais também participaram de três exercícios de campo. Os dois primeiros exercícios foram realizados no Complexo Naval Guandú Sapê (CNGS) e o terceiro na Ilha da Marambaia. Este último simbolizou a transformação completa dos alunos do curso em combatentes anfíbios da Marinha do Brasil. Após a formatura, os Soldados Fuzileiros Navais podem ser designados para servir em Organizações Militares distribuídas em qualquer parte do território nacional.
Para a Segundo-Sargento (Fuzileiro Naval) Giselle Milano Nunes, Instrutora da Turma, essas jovens não só estão fazendo história, como também deixam a porta aberta para outras mulheres que tenham a intenção de seguir na carreira militar. A Sargento descreve as Soldados como vibrantes e determinadas. “Se uma delas desanimava, a outra vinha e falava ‘você está na primeira turma, isso é importante. Nós vamos vencer’”, contou.
O Corpo de Fuzileiros Navais, Força estratégica de pronto emprego, de caráter anfíbio e expedicionário, é formado por militares preparados para atuar em todo o rol de operações militares, sendo capazes de responder, imediatamente, às inúmeras demandas recebidas em prol dos interesses nacionais.
A presença feminina na Marinha
A história precursora da participação feminina na Marinha começou em 1980 com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva. Nos anos 90, foi realizada uma reestruturação que ampliou a participação em cargos de Direção, Comando e comissões, culminando com a promoção, em 2012, da Contra-Almirante (Médica) Dalva Maria Carvalho Mendes, primeira militar brasileira a alcançar o posto de Oficial-General.
Em 2014, 12 jovens integraram a primeira turma de Aspirantes femininas na Escola Naval. Em 2023, ingressaram as primeiras mulheres na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina e no Colégio Naval. O ingresso das novas Soldados Fuzileiros Navais, em 2024, completa o ciclo pioneiro da Força.
Fonte e fotos: Marinha do Brasil