Na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025, o Sudeste do Brasil enfrentou um dos dias mais quentes do ano até o momento, com temperaturas superando os 39°C em várias cidades litorâneas. O calor intenso foi registrado em áreas de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, e pode ser explicado por uma combinação de fatores climáticos, entre eles o fenômeno do aquecimento adiabático.
Calor Intenso no Sudeste: A Exceção no Brasil
Das 10 maiores temperaturas do Brasil registradas até as 17h de segunda-feira, a maioria ocorreu no Sudeste. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mediu temperaturas extremas em cidades como:
38,9°C Niterói (RJ)
38,6°C Alegre (ES)
38,4°C Cambuci (RJ)
38,4°C Silva Jardim (RJ)
38,3°C Bertioga (SP)
37,6°C Itapoá (SC)
37,6°C Campos dos Goytacazes (RJ)
37,5°C Antonina (PR)
37,5°C Muriaé (MG)
37,5°C Iguape (SP)
37,5°C Seropédica (RJ)
37,3°C Rio de Janeiro (RJ)
37,2°C Morretes (PR)
37,2°C Reserva natural Salto Morato (PR)
37,0°C Duque de Caxias (RJ)
37,0°C Xerém (RJ)
36,8°C Indaial (SC)
Este calor incomum foi sentido principalmente no litoral, regiões próximas à Serra do Mar, onde o clima é mais suscetível ao fenômeno de aquecimento adiabático.
O Fenômeno do Aquecimento Adiabático
Mas o que causa tanto calor? O fenômeno responsável é o aquecimento adiabático, um processo natural que ocorre quando o ar desce de regiões de maior altitude para áreas mais baixas. Quando isso acontece, o ar aquece à medida que perde pressão. Em termos simples, para cada 100 metros que o ar desce, a temperatura sobe cerca de 1°C.
No caso do Sudeste, o vento de noroeste que sopra antes da chegada de uma frente fria provoca esse efeito. O ar, ao descer a Serra do Mar, aquece e aumenta a temperatura nas áreas litorâneas, como o litoral paulista e fluminense. Por exemplo, a diferença de altitude entre a cidade de São Paulo e a Baixada Santista, que pode ser de até 800 metros, gera uma elevação de temperatura considerável, explicando os 38°C em cidades como Bertioga (SP).
A Influência dos Ciclos Climáticos
O aquecimento adiabático é especialmente intenso durante situações pré-frontais, ou seja, antes da chegada de uma frente fria. Nesta segunda-feira, a formação de um ciclone extratropical no Sul do Brasil ajudou a intensificar os ventos de direção norte/noroeste, favorecendo o aquecimento do ar no Sudeste. Esse tipo de vento é característico antes da chegada de uma frente fria e ocorre especialmente em regiões com montanhas, como o Rio de Janeiro e o litoral paulista.
O fenômeno não é exclusivo do Sudeste. O vento Zonda, que ocorre na Argentina, e o vento de Sant’ana, na Califórnia, são exemplos de ventos adiabáticos que causam aquecimento e favorecem condições extremas, como incêndios. No Brasil, áreas como Santa Maria, no Rio Grande do Sul, também sentem os efeitos do aquecimento adiabático, especialmente quando o vento predominante é de norte ou noroeste.
Impactos no Cotidiano e Saúde Pública
O calor extremo gerado pelo aquecimento adiabático trouxe consequências para o cotidiano da população do Sudeste. A sensação térmica em várias cidades foi de desconforto, e o calor intenso contribuiu para o aumento da demanda por serviços de saúde, com casos de desidratação e golpes de calor. Além disso, a ausência de chuva e o clima seco aumentaram o risco de incêndios, principalmente em áreas de vegetação seca.
Incêndios e Riscos Ambientais
Um dos maiores impactos do aquecimento adiabático é o risco de incêndios florestais. O calor excessivo e a baixa umidade do ar criam condições ideais para a propagação de fogo, especialmente em regiões com vegetação densa. Esse processo ocorre em várias partes do mundo, como no noroeste da Argentina, onde o vento Zonda contribui para grandes incêndios. No Brasil, o aquecimento adiabático pode intensificar incêndios, especialmente na região Sul e Sudeste, quando o vento quente e seco predomina.
O Calor no Contexto Global
O aquecimento adiabático não se limita apenas ao Brasil e aos incêndios. O vento Zonda, que sopra nas montanhas dos Andes, é um exemplo clássico de como o ar quente e seco pode contribuir para catástrofes ambientais. Na Califórnia, o vento de Sant’ana tem um efeito semelhante, alimentando incêndios florestais durante os meses de outono e inverno, quando as condições são mais propícias para a propagação do fogo.
O calor extremo que dominou o Sudeste do Brasil nesta segunda-feira não é um fenômeno isolado, mas sim o resultado de uma combinação de fatores climáticos, com destaque para o aquecimento adiabático. Este processo, embora natural, tem grande impacto tanto na saúde pública quanto no meio ambiente, já que contribui para o aumento da temperatura e o risco de incêndios. A presença de ventos de norte/noroeste, associados à formação de um ciclone extratropical no Sul do Brasil, intensificou esse fenômeno, levando a temperaturas recordes.
Ficar atento aos efeitos do aquecimento adiabático é essencial para entender melhor os fenômenos climáticos e as possíveis consequências em áreas suscetíveis a calor extremo e incêndios.
Fonte e foto: Clima Tempo