Um expressivo ato público reuniu centenas de manifestantes na cidade de São Paulo no sábado, 7 de junho. A mobilização, intitulada Marcha pelo Clima, teve início em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e seguiu até a Favela do Moinho — local que, recentemente, foi cenário de ações repressivas por parte das forças de segurança, incluindo tentativas de remoção forçada de moradores.
A manifestação foi impulsionada pela recente aprovação do Projeto de Lei 2.159/2021 no Senado Federal, ocorrida na penúltima semana de maio. O texto propõe alterações substanciais no sistema de licenciamento ambiental no Brasil. Com 54 votos a favor e 13 contrários, a proposta foi aprovada após mais de 20 anos de tramitação no Congresso Nacional. Especialistas em meio ambiente têm expressado preocupação com a nova legislação, por considerar que ela enfraquece mecanismos de controle e proteção ambiental.
Entre os principais pontos questionados está a dispensa do licenciamento para atividades que forem consideradas de baixo risco ou associadas à soberania nacional ou a situações de emergência. Também ficam isentos projetos agropecuários voltados à produção agrícola ou à criação de animais em pequena escala, tanto em sistemas extensivos quanto intensivos. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, declarou que a medida aprovada é inconstitucional.
Durante a caminhada na capital paulista, participantes empunhavam faixas com frases como “Não tem planeta B” e entoavam palavras de ordem em defesa da reforma agrária e da justiça climática. Em uma das falas, uma liderança presente no ato afirmou que a humanidade chegou ao ponto em que não resta alternativa a não ser interromper o avanço do aquecimento global.
Outra oradora destacou os danos provocados pelas operações da empresa Braskem em Maceió, capital de Alagoas, onde a exploração de sal-gema levou à evacuação de diversos bairros. O caso, amplamente repercutido, resultou na instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado. A mesma liderança também criticou a influência do agronegócio no Congresso, que classificou como um setor “altamente predatório e negligente”.
A covereadora Nathalia Santana, que compõe a bancada feminista da Câmara Municipal, alertou para os impactos do PL 2.159/2021, apelidado por movimentos sociais de “PL da Devastação”. Segundo ela, a proposta ignora os efeitos climáticos e coloca em risco populações indígenas, quilombolas e comunidades urbanas. Ela também destacou a necessidade de tornar o debate ambiental mais acessível à população, livre de jargões técnicos e atento às desigualdades de raça, gênero e classe social.
Uma pesquisa recente foi mencionada durante o protesto, indicando que muitos cidadãos reconhecem as mudanças climáticas a partir de suas consequências diretas no cotidiano — como o aumento da temperatura, a contaminação de recursos naturais e a escassez de água, especialmente em áreas periféricas.
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), presente no evento, definiu a marcha como um alerta urgente para os desafios ambientais atuais e não apenas futuros.
Também participou da manifestação a aposentada e militante Sol Teixeira, integrante do Movimento Nacional pelo Fim da Exportação de Animais Vivos. Ela denunciou os maus-tratos sofridos por animais durante o transporte para o exterior, destacando que bovinos são submetidos a choques, ferimentos, confinamento extremo e condições insalubres. De acordo com Teixeira, tais práticas ilustram como os interesses econômicos de um pequeno grupo — os grandes pecuaristas — têm relação direta com a destruição ambiental e a exploração animal.
Por Eduardo Souza
Com informações: Agência Brasil
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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