Um novo protocolo para o controle da doença de Chagas está em fase de testes no Sertão do Pajeú, em Pernambuco, uma das regiões com maior prevalência da enfermidade. A principal estratégia do projeto, nomeado “Quem tem Chagas, tem pressa”, é a descentralização do tratamento, permitindo que os pacientes sejam atendidos na cidade onde residem. Atualmente, os atendimentos são concentrados em unidades especializadas, como a Casa de Chagas, no Recife, o que exige longos deslocamentos. A iniciativa busca facilitar o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento, evitando complicações graves, como as cardíacas, que provocam cerca de 4,5 mil mortes por ano no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Na primeira etapa do projeto, profissionais de saúde, estudantes e moradores das cidades de Triunfo e Serra Talhada participaram de atividades de formação sobre a doença. Na segunda fase, realizada no final de julho, cerca de mil pessoas foram submetidas a testes rápidos, que revelaram uma taxa de positividade de 9% — bem acima da média nacional, que varia entre 2% e 5%, segundo o médico Wilson Oliveira, da Casa de Chagas e responsável pelo projeto. Os testes, produzidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Biomanguinhos/Fiocruz), emitem resultado em minutos, enquanto o exame sorológico tradicional pode levar até 45 dias. Os casos positivos continuarão sendo encaminhados para confirmação por sorologia. A gerente de Vigilância das Arboviroses e Zoonoses da Secretaria de Saúde de Pernambuco, Ana Márcia Drechsler, destaca que a validação do teste rápido pode representar economia de tempo e de recursos, já que apenas os pacientes com resultado positivo seguirão para exames complementares.
A fase de tratamento terá início em setembro, com a proposta de que os pacientes recebam os medicamentos próximos de casa, evitando deslocamentos de até 800 quilômetros. O tratamento dura 60 dias e pode ser realizado na atenção primária, que, segundo Wilson Oliveira, tem alta resolutividade para casos que não evoluem para formas graves. A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é transmitida principalmente pelo inseto barbeiro, mas também pode ocorrer por ingestão de alimentos contaminados, transfusão de sangue ou transmissão vertical. O agricultor Roberto Barbosa dos Santos, morador de Triunfo, descobriu a doença tardiamente e hoje vive com complicações cardíacas, incluindo o uso de marcapasso. Ele atua como presidente da filial local da Associação dos Pacientes Portadores de Doença de Chagas, Insuficiência Cardíaca e Miocardiopatia de Pernambuco. A Diretora de Saúde Global e Responsabilidade Corporativa da Novartis Brasil, Michelle Ehlke, afirma que o projeto pode se tornar referência nacional e ser replicado em outras regiões endêmicas, promovendo equidade e sustentabilidade no cuidado à população.
Da redação do Jornal Panorama
Com informações: Agência Brasil
Imagem: Arquivo/Ministério da Saúde
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