Pesquisa da UFMG demonstra importância do investimento em ciência, tema de fórum técnico que a ALMG leva ao interior.
O CT Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) já está adquirindo insumos para desenvolver um teste simplificado para diagnóstico do coronavírus, mais efetivo num possível cenário de epidemia.
A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participa de estudo que aponta falhas no diagnóstico de câncer de mama no Brasil. A demora e a desigualdade no rastreamento da doença ampliam a taxa de mortalidade.
Essas e outras pesquisas reforçam a importância do investimento em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento econômico e social. E esse é o argumento do Fórum Técnico Minas Gerais pela Ciência: por um desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento da presidenta da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, deputada Beatriz Cerqueira (PT), e lançado no fim de setembro de 2019, o evento realiza, na próxima semana, os dois primeiros de uma série de nove encontros regionais.
Na segunda-feira (9/3/20), Juiz de Fora recebe o debate da Zona da Mata, no Centro de Ciências, na Praça Cívica do campus da UFJF (Rua José Lourenço Kelmer, s/n).
Na sexta-feira (13), Varginha sedia o encontro da Região Sul, no auditório do campus local da Universidade Federal de Alfenas (Avenida Celina Ferreira Ottoni, 4.000, bairro Padre Vitor).
Eixos – Em cada região, grupos de trabalho vão discutir eixos temáticos e apresentar subsídios para a elaboração de um Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação. Após os outros sete encontros previstos na programação do fórum técnico, será realizada a etapa final, em Belo Horizonte. As inscrições on-line para todos os encontros regionais já estão abertas. O prazo para se inscrever no evento em Juiz de Fora termina nesta sexta (6), às 15 horas. Para Varginha, o prazo vai até quarta-feira (11), também às 15 horas.
UFMG integra esforço nacional contra novo vírus
O CT Vacinas da UFMG integra o conselho emergencial criado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTIC) logo após o surgimento da nova modalidade do coronavírus.
O laboratório, coordenado por pesquisadores da própria universidade e do Instituto René Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas), já se movimenta para elaborar um teste rápido para diagnóstico em massa da infecção, num possível quadro de epidemia.
O biólogo e virologista Flávio da Fonseca, do CT Vacinas, explica que o teste molecular, que vem sendo usado nos diagnósticos, é inviável no caso de epidemia no Brasil. “O País não tem capacidade instalada para realizar esse exame em massa, e o teste sorológico seria o mais indicado”, aponta.
A expectativa é que o produto esteja disponível no curto a médio prazo. O CT Vacinas também se propõe a realizar o teste molecular, em suporte aos demais laboratórios públicos, e a desenvolver uma vacina, no médio a longo prazo. As ações ainda serão validadas pelo MCTIC.
Câncer – No caso do estudo que teve a participação da UFJF, pesquisadores analisaram dados hospitalares sobre câncer de mama no País entre 2001 e 2014. O objetivo era verificar a eficácia do rastreamento da doença, implantado em 2004.
Os resultados mostraram que 40% dos diagnósticos foram tardios, quando o câncer já estava avançado. Aproximadamente 7,5 mil mortes poderiam ter sido evitadas, só em 2012, se 80% das mulheres diagnosticadas nos estágios III e IV da doença nos cinco anos anteriores tivessem, ao invés disso, sido diagnosticadas em estágio II.
Outro dado relevante aponta que o diagnóstico tardio foi mais comum entre mulheres que se declararam como pardas e negras e com baixa escolaridade (48,8%) e menor em mulheres brancas com educação superior (29,4%).
“Essa desigualdade do acesso aos serviços reforça a importância de as unidades básicas de saúde fazerem um trabalho com essa população de maior risco”, pontua a médica epidemiologista Maria Teresa Bustamante, professora da UFJF.
Para ela, o estudo é importante para redirecionar a política pública no Brasil. “O ideal é que o rastreamento seja organizado para atingir todas as mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Hoje, algumas mulheres fazem exames anualmente e outras nunca fazem”, compara.
Plano tem objetivo de reduzir a desigualdade
A redução das desigualdades social, de gênero e raça é o objetivo geral do Plano Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação que se pretende construir a partir do fórum técnico. Outra meta é garantir a recuperação, conservação, proteção ambiental e sustentabilidade.
Nesse contexto, a ciência, a pesquisa, a tecnologia e a inovação atuam como propulsoras do desenvolvimento econômico e social do Estado. Os encontros também buscam mobilizar as instituições, poderes públicos, empresas e sociedade para garantir investimento no setor.
Ao longo de 2019, a redução das verbas para pesquisa, nos âmbitos estadual e federal, motivou diversos debates na Assembleia sobre o impacto da medida nas universidades públicas localizadas em Minas. Flávio da Fonseca, da UFMG, reitera a degradação das condições laboratoriais no Brasil, com sucessivos cortes nas linhas de fomento, ao longo dos anos.
Ele observa que o Brasil está bem preparado na chamada “linha de frente”, com médicos e hospitais com know-how para epidemias e infecções. “Mas a linha de frente só consegue trabalhar com o suporte da pesquisa, que indica o medicamento que funciona, que faz os testes”, afirma.
O pesquisador reforça que o financiamento tem que ser perene, porque a construção do conhecimento leva tempo. “Não adianta muito injetar dinheiro na emergência”, contrapõe.
Parceiros – Dezenas de entidades participam como parceiras do fórum, incluindo-se fundações, empresas públicas, universidades e representações de servidores das áreas de educação e pesquisa. A integração regional do conhecimento em ciência, pesquisa, tecnologia e inovação também é objetivo do evento.
Fonte: ALMG
Crédito: Arquivo ALMG – Foto:Clarissa Barçante