Aos 83 anos, o escritor Pedro Bandeira, um dos nomes mais importantes da literatura infantojuvenil brasileira, vive um momento marcante na carreira: sua obra mais icônica, “A Droga da Obediência”, lançada em 1984, será adaptada para o cinema pela primeira vez. O anúncio vem em meio às celebrações de quatro décadas da publicação, com participação do autor na Bienal do Livro do Rio de Janeiro e na Feira do Livro, em São Paulo.
Com mais de 32 milhões de exemplares vendidos ao longo da carreira e autor de mais de 130 livros, Bandeira é conhecido por conectar gerações de leitores com histórias que misturam aventura, emoção e reflexão. “A Droga da Obediência”, título inaugural da série Os Karas, foi responsável por apresentar ao público um grupo de jovens detetives que se tornou símbolo da literatura juvenil brasileira. Só esse título acumula mais de 4 milhões de cópias vendidas.
Encontros com o público e legado afetivo
Durante os eventos literários, Bandeira destaca a alegria de encontrar quem cresceu com seus livros. “Quando eu escrevo, eu não vejo o meu leitor. Então, quando ele vem aos eventos, é gostoso poder abraçar aquelas pessoas”, disse. Ele relembra situações emocionantes, como o encontro com uma antiga leitora que hoje é professora e repassa seus livros aos alunos, ou um casal que tirou uma foto com o autor ao lado do filho recém-nascido, prometendo apresentar suas histórias à criança no futuro.
Literatura como formação emocional
Para Pedro Bandeira, o papel da literatura vai além do ensino tradicional. “A literatura trata daquilo que a escola não pode tratar: as emoções”, afirma. Segundo ele, a leitura permite que o jovem compreenda sentimentos complexos como o ciúme ou a tristeza sem necessariamente vivê-los. “A arte ajuda no amadurecimento do ser humano. Eu fui criado pelo livro.”
O escritor compartilha casos marcantes, como o de uma jovem leitora que, após dizer que não gostava de ler, se apaixonou pelos livros por meio de “A Droga da Obediência”. Poucos anos depois, já lia obras como “A Odisseia”, de Homero, e “Canaã”, de Graça Aranha. “Ela só precisou de quatro anos de treinamento”, contou.
Escritor e coautor: o leitor como parte da obra
Bandeira acredita que a leitura é um ato de liberdade e parceria entre leitor e escritor. “O leitor é coautor do livro. Ele pensa, ele imagina”, diz. Para ele, a experiência da leitura é sempre pessoal, e cada interpretação é válida. “A forma certa de ler é a forma que eu leio”, defende, citando exemplos como a polêmica em torno da personagem Capitu, de “Dom Casmurro”, que permite múltiplas visões a partir das emoções e vivências do leitor.
Da redação ao sucesso literário
Antes de se tornar escritor, Bandeira trabalhou como jornalista e redator em revistas como Cláudia, da Editora Abril. O caminho para a literatura começou com a produção de histórias infantis como freelancer. Com o incentivo da professora e escritora Marisa Lajolo, decidiu escrever seu primeiro livro autoral. O sucesso de “A Droga da Obediência” foi imediato, e o permitiu abandonar outros empregos para se dedicar integralmente à literatura.
Mesmo sem formação específica em pedagogia ou psicologia, o autor buscou estudar o desenvolvimento humano para escrever de forma adequada a cada faixa etária. “Você escreve para o interior do leitor, para suas emoções”, resume.
Emoção como centro da obra literária
Pedro Bandeira ressalta que a ficção não é sobre ensinar, mas sobre emocionar. “A minha responsabilidade é com a emoção”, afirma. Em suas palavras, toda grande obra literária, como as de Machado de Assis ou Shakespeare, fala sobre sentimentos profundos e universais.
Com a mesma sensibilidade, ele conta que hoje se identifica especialmente com o personagem Dom Quixote, de Cervantes. “Ele era um velho que não entendia as coisas novas. Eu tenho dificuldade com a tecnologia, com impressoras, e me vejo nele”, brinca, sem perder o entusiasmo pelo poder transformador da leitura.
Agora, com a adaptação cinematográfica de seu maior sucesso a caminho, Bandeira segue colhendo frutos de uma vida dedicada a criar histórias que tocam gerações — não apenas com enredos, mas com emoção, humanidade e afeto.
Fonte e foto: Agência Brasil
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