Durante a abertura da cúpula de líderes do Brics, realizada no Rio de Janeiro neste domingo, dia 6, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou que a falta de reformulação no Conselho de Segurança das Nações Unidas contribui para um cenário global mais frágil e inseguro. O chefe do Executivo brasileiro fez duras críticas à militarização, ao terrorismo, às ofensivas israelenses, bem como à politização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Na sessão intitulada Paz e Segurança, Reforma da Governança Global, Lula afirmou que, entre todas as ocasiões em que o Brasil exerceu a presidência do Brics, esta acontece sob o panorama internacional mais instável. Segundo ele, o multilateralismo encontra-se em colapso, e a autonomia de países em desenvolvimento está novamente sob ameaça. O presidente também classificou o Brics como herdeiro do Movimento Não-Alinhado, ao destacar que o grupo busca se distanciar da lógica de subordinação às potências ocidentais.
Entre as críticas, destacou o recente anúncio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ao considerar que suas decisões estimulam a ampliação de arsenais militares, em detrimento de investimentos em desenvolvimento sustentável. Lula mencionou a discrepância entre os percentuais dedicados a gastos bélicos e os recursos destinados à cooperação internacional, como os prometidos para a Agenda 2030.
No tocante à atuação do Conselho de Segurança da ONU, o presidente argumentou que o órgão sofre com a falta de credibilidade e encontra-se paralisado. Composto por 15 integrantes, sendo cinco permanentes com poder de veto — Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido —, o colegiado, segundo ele, precisa ser reestruturado com urgência. Lula defende a ampliação do número de membros permanentes, com inclusão de representantes da América Latina, Ásia e África, afirmando que a proposta já havia sido reforçada durante a presidência brasileira no G20, em novembro do ano passado.
Ao abordar temas nucleares, o presidente brasileiro apontou preocupações com a AIEA, responsável por monitorar o programa nuclear iraniano. Segundo ele, o uso político de seus relatórios compromete sua credibilidade. Lula reiterou a posição do governo brasileiro contra a violação da soberania do Irã, integrante do Brics, e criticou diretamente a ofensiva lançada por Israel, em junho, sob a justificativa de conter a produção de armas nucleares pelo país persa.
Também foram reprovadas intervenções armadas em países como Iraque, Afeganistão, Síria e Líbia, que, segundo Lula, não têm base jurídica internacional e tendem a se repetir com consequências ainda mais devastadoras. O presidente manifestou repúdio aos atentados promovidos pelo grupo Hamas, mas condenou com igual ênfase a resposta militar de Israel em Gaza, classificada por ele como genocídio, com uso da fome como instrumento de guerra.
Lula também recordou a violação da integridade territorial da Ucrânia, sem menção direta à Rússia. Ele defendeu a continuidade das negociações iniciadas pelo Grupo de Amigos para a Paz, uma iniciativa conjunta de Brasil e China com países do Sul Global, a fim de alcançar um cessar-fogo e uma solução pacífica para o conflito.
O presidente brasileiro ainda lamentou o abandono prematuro do Haiti pela comunidade internacional, mas reconheceu avanços promovidos pela ONU ao longo das últimas décadas, como a proibição do uso de armas biológicas e químicas. Em sua avaliação, a governança internacional atual não reflete a realidade de um mundo multipolar, e o Brics deve ter papel ativo na reformulação desse sistema.
O Brics é formado por 11 países-membros: Brasil, África do Sul, China, Rússia, Índia, Arábia Saudita, Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. Juntas, essas nações representam 39% da economia global e concentram 48,5% da população mundial. Há ainda dez países com status de parceiros, como Bolívia, Malásia e Vietnã, que não possuem direito a voto nas decisões do grupo. O Brasil exerce a presidência do Brics em 2025, sendo a Índia a próxima nação a assumir o comando do colegiado.
Da redação do Jornal Panorama
Com informações: Agência Brasil
Imagem: Ricardo Stuckert / PR
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