O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que o “centro de gravidade” da guerra contra os inimigos do país está se deslocando para o norte, à medida que tropas israelenses são enviadas para a fronteira com o Líbano, nesta quarta-feira, 14 de agosto. A declaração foi feita durante visita à base aérea de Ramat David, operada pela Força Aérea israelense, onde Gallant destacou que o país está entrando em uma nova fase do conflito e que será necessário consistência, coragem, determinação e perseverança.
A movimentação militar ocorre em meio a uma série de ações atribuídas a Israel — embora não confirmadas oficialmente — contra meios de comunicação analógicos do movimento libanês Hezbollah, como pagers e walkie-talkies. Nas explosões de terça-feira, 12 pessoas morreram e 2.800 ficaram feridas. Já nesta quarta-feira, o número de mortos subiu para 20, com 450 feridos.
Especialistas e fontes de segurança internacionais especulam que a detonação dos equipamentos eletrônicos do Hezbollah pode ser apenas a primeira etapa de um plano mais amplo de Israel. A ideia inicial incluiria uma possível invasão da parte sul do Líbano, enquanto o grupo ainda absorvia o impacto das explosões. No entanto, a suspeita do Hezbollah sobre a adulteração dos dispositivos teria antecipado o planejamento, resultando em uma ação isolada.
As hostilidades entre Israel e Hezbollah, que já travaram uma guerra sangrenta em 2006, se intensificaram após o início da guerra em Gaza, em outubro do ano passado. O Hezbollah, aliado do Hamas no chamado Eixo da Resistência, lançou foguetes e projéteis de artilharia contra o território israelense em solidariedade ao grupo palestino. Em resposta, as forças israelenses iniciaram ataques aéreos, provocando a retirada de dezenas de milhares de civis dos dois lados da fronteira.
Entre as forças deslocadas para o norte está a 98ª Divisão do Exército de Israel, composta por comandos e paraquedistas, que até recentemente operava em Gaza. Essa divisão se juntará à 36ª Divisão, já posicionada na região há meses. O chefe do Comando Norte de Israel, major-general Uri Gordin, afirmou que as Forças Armadas estão determinadas a mudar a situação de segurança o mais rapidamente possível.
Durante visita ao norte de Israel em março, o jornal O GLOBO registrou a tensão entre moradores próximos à Linha Azul, que divide os dois países. Especialistas e residentes já consideravam inevitável uma escalada do conflito, restando apenas a dúvida sobre o momento em que isso ocorreria. Parte da população israelense defendia uma ofensiva imediata, com o objetivo de restaurar a normalidade na região e eliminar a ameaça do Hezbollah.
Na declaração desta quarta-feira, Gallant reforçou que o objetivo de uma possível ofensiva é “devolver os moradores das cidades do norte para suas casas em segurança”. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também se manifestou brevemente, afirmando: “Eu já disse, nós devolveremos os moradores do norte em segurança às suas casas. E é exatamente isso que faremos”.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas israelenses, Herzl Halevi, indicou que os militares estão preparados para os “dois próximos estágios” da guerra, afirmando que cada um exigirá um “alto preço” do Hezbollah. Halevi destacou que Israel possui muitas capacidades ainda não ativadas e que os planos estão sendo preparados para o futuro, com o objetivo de garantir a segurança dos civis no norte do país.
Analistas de defesa israelenses avaliam que, se o ataque de 7 de outubro tivesse sido realizado pelo Hezbollah em vez do Hamas, o número de vítimas israelenses teria sido ainda maior. Isso porque o grupo libanês possui uma força mais numerosa, tecnologia mais avançada e rotas de reabastecimento fora do controle de Israel.
O Hezbollah, organização política e paramilitar xiita do Líbano, é amplamente financiado pelo Irã. Estimativas dos Estados Unidos indicam que Teerã destinou centenas de milhões de dólares em dinheiro e armamentos ao grupo nos últimos anos. Em entrevista concedida em 2021, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que o braço armado da organização conta com cerca de 100 mil combatentes. O grupo mantém grande parte do arsenal utilizado na Guerra Civil Libanesa (1975–1990) e afirma possuir dezenas de milhares de foguetes de precisão capazes de atingir todo o território israelense.
Com o deslocamento de tropas e declarações contundentes de autoridades israelenses, o cenário aponta para uma escalada do conflito na fronteira norte, elevando o risco de uma nova guerra regional.
Da redação do Jornal Panorama
Com informações: O Globo
Imagem: FreePik/Imagem Ilustrativa
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