O líder conservador alemão Friedrich Merz foi eleito chanceler da Alemanha nesta terça-feira (6), após vencer um segundo turno de votação no Bundestag (Parlamento federal), encerrando um processo marcado por incertezas e constrangimentos. Aos 69 anos, Merz se torna o 10º chanceler da Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial, mas seu governo de coalizão já começa sob forte pressão e questionamentos internos.
No segundo turno, Merz obteve 325 votos – apenas nove a mais do que o mínimo necessário para garantir a maioria absoluta. No primeiro turno, o candidato havia recebido apenas 310 votos, revelando que ao menos 18 parlamentares da coalizão formada por conservadores e social-democratas (SPD) não o apoiaram inicialmente. Foi a primeira vez, no pós-guerra, que um chanceler eleito falhou em obter apoio parlamentar na primeira tentativa.
Após a confirmação da eleição, Merz se dirigiu ao Palácio Bellevue para ser oficialmente nomeado pelo presidente Frank-Walter Steinmeier. Em seguida, retornou ao Reichstag para prestar juramento e assumir formalmente o cargo.
A vitória apertada expôs rachaduras na coalizão e gerou críticas sobre a liderança de Merz, que nunca ocupou um cargo governamental anteriormente. Analistas políticos apontam que o início turbulento enfraquece a capacidade do novo governo de implementar reformas prometidas, como redução de impostos corporativos, queda no preço da energia e aumento dos gastos militares, além de um forte apoio à Ucrânia.
A instabilidade no Parlamento alemão ocorre em um momento delicado para o país, cuja economia enfrenta o risco de encolhimento pelo terceiro ano consecutivo. As pressões externas incluem o impacto de tarifas comerciais dos Estados Unidos, a ruptura com o fornecimento de gás russo desde a invasão da Ucrânia em 2022, e a crescente tensão econômica com a China.
Merz também se vê diante de um cenário geopolítico desafiador. A possível reeleição de Donald Trump nos EUA e sua postura hostil à OTAN levaram até mesmo o novo chanceler, um tradicional aliado dos EUA, a defender maior autonomia europeia em defesa e segurança.
A vitória sofrida de Merz fortaleceu a posição da extrema-direita, especialmente o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem crescido nas pesquisas desde que ficou em segundo lugar nas eleições de fevereiro. A instabilidade pode corroer ainda mais a confiança nas instituições políticas do país, alertam especialistas.
“O fracasso inicial de Merz deixou uma impressão duradoura, frustrando as expectativas de que a Alemanha reassumisse seu papel de liderança como âncora de estabilidade na Europa”, avaliou Jana Puglierin, diretora do Conselho Europeu de Relações Exteriores em Berlim.
Enquanto tenta consolidar sua liderança, Merz enfrentará o desafio imediato de unificar sua coalizão e convencer a sociedade de que está preparado para comandar a maior economia da Europa em tempos de crise e transição.
Por Juliana Carvalho
Com informações da Agência Brasil